A neurociência cognitiva social, cujos focos são os processos cognitivos relacionados à presença e à convivência com outros seres humanos, tem explicado muitos dos problemas no funcionamento interpessoal em portadores de transtornos mentais, incluindo o transtorno afetivo bipolar (TAB).O TAB parece estar associado a comprometimento da capacidade de inferir estados mentais em terceiros (como crenças, desejos e intenções), e esse déficit foi descrito por vários autores, tanto em bipolares eutímicos quanto em estados depressivos ou maníacos 1 .Os prejuízos na inferência de estados mentais apresentados por bipolares parecem comprometer suas habilidades de se relacionarem de maneira saudável com familiares, empregadores e outras pessoas de seu convívio, gerando tensão e piora da morbidade de sua condição por aumento do risco de recaídas e recidivas de episódios de humor.Nossa capacidade automática e espontânea de compreender outros humanos -e de nos identificar com eles -parece ser composta tanto por nossa capacidade de inferir estados mentais em outros humanos quanto pelo fenômeno da empatia, que permite que compartilhemos sentimentos e emoções. Como seres sociais, nossa habilidade de nos entendermos mutuamente, reconhecendo a experiência pessoal de self como semelhante à de outros humanos, sem deixar de lado a própria individualidade, parece ser constituída por duas dimensões distintas: 1. habilidade de inferência de estados mentais, também chamada por alguns autores de "empatia cognitiva", e 2. "empatia afetiva", relacionada à capacidade de sincronizarmos emocionalmente com outras pessoas, de acordo com o conceito mais popularizado de empatia 3 ). Dois artigos publicados recentemente 3,4 investigaram independentemente prejuízos empáticos em portadores de TAB, obtendo resultados bastante interessantes e muito semelhantes. Shamay-Tsoory et al. 3 avaliaram bipolares do tipo I sem história de psicose e em eutimia, que preencheram um questionário de avaliação de capacidade empática, o Índice de Reatividade Interpessoal (IRI), constituído de quatro subescalas de sete itens: tomada de perspectiva (que mede a tendência a adotar espontaneamente o ponto de vista psicológico de outros, e que mais se aproximaria de avaliar a dimensão "empatia cognitiva"), fantasia (que mede a tendência a, de maneira imaginária, transpor-se a uma situação ficcional), preocupação empática (que mede a tendência a experimentar sentimentos de simpatia e compaixão) e estresse interpessoal (que mede a tendência a experimentar estresse e desconforto perante estresse e desconforto de outros, e que mais se aproximaria de avaliar a dimensão "empatia afetiva"). Os pacientes também foram avaliados por meio de uma tarefa faux pas (ou gafe) e de testes de reconhecimento de emoções. Na tarefa faux pas, é mostrada ao indivíduo experimental uma vinheta em que alguém faz um comentário indevido dirigido a outra pessoa, por não saber que esta poderá se ofender com esse comentário. A adequada compreensão do faux pas exige do examinado tanto a capacidade de metarre...