As desigualdades de género na academia neoliberal têm vindo a ser abordadas através de diferentes perspetivas : articulação entre vida privada, familiar e profissional ; divisão desigual do trabalho administrativo ; expectativas dissemelhantes em relação ao trabalho emocional ; assédio moral, entre outros. A pandemia exacerbou estas desigualdades, ao mesmo tempo que trouxe novos desafios para as docentes e investigadoras. A implementação do modelo de trabalho remoto nas instituições de ensino superior e científicas concomitante com a suspensão das aulas presenciais em creches e escolas, bem como com a interrupção dos serviços de apoios ao cuidado de pessoas adultas em situação de dependência, impôs novos contratempos para a articulação das exigências da vida pessoal, familiar e profissional para as mulheres. A partir de uma metodologia mista que engloba um inquérito online (n = 607), dois grupos focais com docentes, investigadores e investigadoras, e 17 entrevistas em profundidade com mulheres que exercem atividades de docência e de investigação, procurámos analisar de que forma, no contexto das instituições de ensino superior e científicas portuguesas, as mulheres experienciaram e negociaram a passagem para o trabalho remoto no que diz respeito às demandas de articulação entre vida privada, pessoal e profissional.