“Em nome da mãe”: performatividades e feminizações em um CRAS

Abstract

Resumo: Neste artigo, são apresentadas descrições etnográficas de um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), equipamento do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), com o intuito de compreender a performatividade de gênero e sexualidade na Política Nacional de Assistência Social (PNAS). A proposta de diminuição das desigualdades de gênero é um dos propósitos desta política que reconhece as mulheres como agentes da proteção social, principalmente no contexto familiar. A forma como essas políticas vêm se organizando acaba por performatizar as feminizações por meio de uma “biopolítica da maternidade” que se operacionaliza, de forma concreta, nas práticas, repercutindo diretamente nos processos de subjetivação e na configuração da gestão das relações familiares e sociais.

Concepções De Gênero E Profissionais Do Centro De Referência De Assistência Social

“…Isso indica que há uma naturalização, pois o cuidado é uma atividade ensinada, que pode ser realizada por pessoas de qualquer gênero. Essa lógica familista reitera que o cuidado e as tarefas domésticas são competências e atividades naturais da mulher, mantendo-as no trabalho não-remunerado, dificultando sua autonomia e perpetuando condições de desigualdade (Botton et al, 2015;Detoni et al, 2018).…”

“…A falta de serviços públicos que contribuam para o cuidado com crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência dificulta ou mesmo impede acesso e permanência das mulheres no mercado de trabalho, limitando também a elevação da renda familiar (Bruschini & Ricoldi, 2009;Brasil, 2015b). Ao tratar dessas questões com uma perspectiva individualista, atribui-se à mulher a culpa pela situação, cabendo a ela administrar e superar a condição em que vive, discurso que se aproxima à meritocracia, e que isenta sociedade e Estado (Narvaz & Koller, 2006;Detoni et al, 2018).…”

E ficamos aí, nessa vida de cuida e descuida: narrativas da vida cotidiana das mulheres nas políticas de assistência social

“…Dentre os trabalhos analisados, identificamos que as relações de gênero majoritariamente se referem a um estudo das mulheres. (MARIANO, 2008;MEYER, KLEIN, FERNANDES, 2012;NASCIMENTO, SOARES, 2017;DETONI, MACHADO, NARDI;, MOREIRA, 2018. Os homens, quando mencionados, são identificados por sua ausência, por estarem presos, terem abandonado a família, estarem internados em instituições de recuperação de dependência química, muitas vezes estão mortos, geralmente assassinados.…”

“…(REGO, PINZANI, 2014;MARIANO, 2008) No entanto, é um consenso entre as pesquisadoras de que o trajeto para a construção de cidadania das mulheres e a produção de relações igualitárias entre os sexos ainda precisam ser muito discutidos, principalmente no âmbito da assistência social, cujo paradoxo se apresenta entre a cristalização das relações de cuidado atribuídas à mulher e a oferta de renda para uma conquista de maior autonomia. (REGO, PINZANI, 2014;DETONI, MACHADO, NARDI, 2018;MOREIRA 2018).…”

“…Essa perspectiva denuncia o risco de as políticas sociais tornarem-se meras estratégias de fiscalização e administração de certas dimensões da vida cotidiana. (MEYER, KLEIN, FERNANDES, 2012;DETONI, MACHADO, NARDI, 2018) Em relação aos desafios da territorialidade, aponta-se para a horizontalidade no planejamento e implementação dos trabalhos, substituindo as ações "para" as famílias por ações "junto" às famílias. 20 (MOREIRA, 2018) Corroboram esta concepção pesquisas que discutem o risco de algumas atuações no âmbito das políticas de assistência tornarem-se 18 O conceito de performatividade é estudado por Butler (2012) e descrito como um enunciado que interpela o sujeito no ato de nomeá-lo como masculino ou feminino.…”