Eleições municipais 2016: religião e política nas capitais brasileiras

Abstract

O presente trabalho visa a contribuir para uma perspectiva nacional da problemática acerca da imbricação entre religião e política durante o processo eleitoral de 2016 nas capitais brasileiras. O texto possui um caráter expositivo comparativo buscando privilegiar a apresentação dos dados, acompanhados de uma breve análise. Desta forma, procuramos delimitar algumas especificidades deste processo em cada região, estado e município analisado, assim como explicitar a presença do religioso como elemento de mobilização e constituição de uma plataforma eleitoral, tanto na disputa por cargos executivos como para os legislativos municipais. Para efeitos gerais, foram considerados todos os candidatos que, de alguma forma, acionaram o seu pertencimento religioso, de forma direta ou indireta, os quais denominamos como religiosos políticos, além dos candidatos ao executivo que buscaram apoio junto aos segmentos religiosos.

Rhetoric of Loss in the 2018 Brazilian Presidential Elections: Religion, Social Fears and Tradition in Focus

“…In 2016, the municipal elections took place in a period immediately after one of the biggest political dramas of Brazil's newly democratic period: the impeachment of then-president Dilma Rousseff (PT). The opposition between right and left was accentuated in society and the electoral use of this ideological sharpening was analyzed by different social scientists (Mariano 2019;Oro and Carvalho 2017;Almeida and Toniol 2018;ROMERO, MANSILLA, LOZANO, TONIOL, BURITY, TORRE, 2019;Pinheiro-Machado 2018; among others). In Rio de Janeiro, the winner was the then Senator of the Republic, Marcelo Crivella, nephew of Edir Macedo and bishop of the Universal Church of the Kingdom of God, who, in that election, unlike what he undertook in his campaign for reelection to the mayoralty in 2020, sought to conceal his religious ties in different situations, such as, for example, in debates and free electoral time (Vital da Cunha, Lopes and Lui 2017, Almeida andReis 2017, Marques 2018).…”

Religião E Política Nas Eleições Municipais: Mobilizações E Performances De Católicos E Evangélicos

“…gênero" e aborto teve seu espaço na campanha desses candidatos. Sidnei Jardim lembrou de suas ações em mandatos anteriores (2004)(2005)(2006)(2007)(2008)(2009)(2010)(2011)(2012)(2013)(2014)(2015)(2016)(2017)(2018)(2019)(2020) (Boas, 2020;Machado, Burity, 2014), algo como um "ecumenismo conservador", na peleja contra as hostes da maldade que querem corromper, de diversas formas, a instituição mais importante da sociedade, segundo os cristãos políticos: a família tradicional.…”

“…Em Campo Mourão, o projeto político das Igrejas de ocupar o espaço público e utilizar o capital religioso como meio para conquistar o eleitorado e difundir referências para alcançar as almejadas legitimidade e capilaridade, continua sendo a principal forma de pôr em prática suas "estratégias de visibilidades" (Monteiro, Silva, Sales, 2018). Como apontado no primeiro ato, os atores mobilizaram os elementos sacros em campanha com disparidade, tanto em relação à quantidade de materiais produzidos que contenham relações entre religião e política, quanto na notoriedade e intensidade do capital religioso, o que nos permite caracterizá-los como políticos cristãos e cristãos políticos (Guadalupe, 2020;Carvalho Junior, Oro, 2017). Vale destacar que ambos instrumentalizam a religião para construir suas identidades, embora o primeiro busque alcançar outros grupos do corpo social, para além dos cristãos; enquanto o segundo tem maior status dentro do campo religioso e, talvez por isso, dialogue com seus pares com maior ênfase.…”

“…Já os "políticos cristãos" podem ser caracterizados como aqueles que atuam na política de forma democrática, mantendo seus princípios religiosos como norteadores, embora busquem o bem comum em suas ações, sem o desejo de impor um modelo de estado confessional. Geralmente, em suas propostas de campanha, procuram atentar-se para outros grupos da sociedade, para além dos cristãos, o que reflete diretamente na quantidade de material produzido que contenha relações entre religião e política (Guadalupe, 2020;Carvalho Junior, Oro, 2017). Os candidatos estão atomizados em dez partidos, o que parece indicar a ausência de facções políticas confessionais que concentrem esses religiosos.…”

“Quando um justo governa, o povo se alegra”: modus operandi evangélico nas eleições à Assembleia Legislativa do Paraná, em 2018

“…Por meio de estudos já produzidos sobre a temática (CARVALHO JUNIOR; ORO, 2017;BURITY, 2011;CAMURÇA, 2008;MARIANO, 2005; entre outros) é notória a participação de candidatos que acionam elementos da religião durante a campanha, denominados aqui como religiosos políticos 1 . Devido à participação efetiva desses agentes no âmbito governamental, articulando suas estratégias de forma que suas demandas e seu ethos sejam representados e instituídos na esfera pública, não se pode ignorar a visibilidade das religiões no cenário contemporâneo, quadro que atribui relevância a esta investigação.…”