“…Explica-se que "a cultura modela o conteúdo educacional, modos operacionais e contextos, uma vez que ela molda nossos quadros de referência, nossas maneiras de pensar e agir, nossas crenças e, até mesmo, nossos sentidos" (UNESCO, 2006, p. 12-13). A interculturalidade é definida como um "conceito dinâmico e se refere à relação de constante evolução entre grupos culturais" (UNESCO, 2006, p. 17 Tendo a sua origem no processo de luta dos movimentos sociais para resistir à expropriação de terras, a Educação do Campo vincula-se à construção de um modelo de desenvolvimento rural que priorize os diversos sujeitos sociais do campo, isto é, que se contraponha ao modelo de desenvolvimento hegemônico que sempre privilegiou os interesses dos grandes proprietários de terra no Brasil, e também se vincula a um projeto maior de educação da classe trabalhadora, cujas bases se alicerçam na necessidade da construção de um outro projeto de sociedade e de Nação (Molina & Freitas, 2011, p. 19). Assim, para nortear a reflexão apresentada neste trabalho, são utilizados estudos sobre a ecologia dos saberes (Santos, 2014), que trata das relações de colonialidade do conhecimento científico com outros tipos de conhecimento na sociedade contemporânea, sobre interculturalidade (Fleuri, 2001;Walsh, 2009Walsh, , 2010Estermann, 2010;Guilherme & Dietz, 2015) e sobre o movimento da Educação no Campo no Brasil (Caldart, 2009;Antunes-Rocha, 2011;Molina & Freitas, 2011;Molina & Antunes-Rocha, 2014 ... a perspectiva (funcional) de interculturalidade ancora-se no reconhecimento da diversidade e diferença culturais, objetivando a inclusão da mesma no interior da estrutura social estabelecida. A partir desta perspectiva -que visa promover o diálogo, a convivência e a tolerância -, a interculturalidade é "funcional" para o sistema existente, não toca as causas da assimetria e da desigualdade sociais, tampouco "questiona as regras do jogo", por isso "é perfeitamente compatível com a lógica do modelo neoliberal existente" (Walsh, 2010, p. 77-78 ii Walsh (2009, p. 15) utiliza o termo "de-colonial", suprimindo o "s" de "descolonial" para marcar uma distinção com o significado dessa palavra em espanhol.…”