Doença grave e internação em terapia intensiva: experiências em longo prazo de pessoas adoecidas e cuidadores

Abstract

Quero agradecer à Profa. Dra. Carmen Lucia Cardoso, minha cara orientadora e parceira de trabalho, pela confiança sempre presente e pelas inúmeras oportunidades de aprendizado. Com você, aprimorei minhas capacidades, pude realizar e finalizar este trabalho, mas, principalmente, pude vivenciar e compreender o sentido das palavras abertura e humano. Muito obrigada por aceitar me acompanhar neste percurso! Às pessoas que participaram deste estudo, por confiarem a mim seus pensamentos e sentimentos, por partilharem um caminhar difícil, mas transformador, e por me ensinarem o valor da vida e a força do humano. Ao Prof. Dr. Anibal Basile Filho, pelo apoio e permanente permissão para minha inserção no trabalho de sua equipe. À Profa. Dra. Maria Auxiliadora Martins, pelas discussões/conversas sempre estimulantes e produtivas, pela curiosidade que sempre motivou novas questões, pela presença apoiadora e confiante e pelas infinitas oportunidades de realização de um trabalho em parceria. À equipe do CTI do HCFMRP-USP, especialmente à Jaciara Machado Viana, Kátia

Vivência de adoecimento e cuidados em saúde mental: estudo compreensivo e longitudinal a partir da alta da internação psiquiátrica

“…A seguir estão descritos os passos da análise do corpus, para a qual se adaptou os modelos utilizados nos trabalhos desenvolvidos por Casarini (2013) Por meio da ficha, peguei o telefone da residência e, antes mesmo de sua alta, liguei para falar com sua mãe, Eunice. O motivo da ligação era fazer um primeiro contato, apresentar-me e convidá-las para participação no estudo depois que Fernanda tivesse alta.…”

“…O acompanhamento após a alta da internação parecia se dar por meio de atendimentos fragmentados, sem um acompanhamento longitudinal na perspectiva do cuidado integral e territorial conforme previsto pela Reforma Psiquiátrica e incorporado na legislação nacional. A contenção dos sintomas, embora importante, não abarca toda a complexidade apresentada pelas famílias, o que remete as pessoas (paciente ou familiar) a uma condição de impotência, por não saberem o que fazer com as dificuldades vivenciadas, de isolamento, por não contarem com um serviço implicado com suas necessidade, e de invisibilidade, por não terem suas experiências consideradas no processo de cuidado (Casarini, 2013).…”

“…Assim, a partir da análise das entrevistas, foi se delineando a necessidade e a importância da presença das pessoas do entorno para a construção das possibilidades de ser. Neste tópico, coloca-se em pauta o encontro humano não apenas como possibilidade de reconhecimento do outro, mas também de reconhecimento de si mesmo (Casarini, 2013;Safra, 2004, Stein, 1917). Safra (2004 aponta que a presença do outro nos abre para a possibilidade de ser na medida em que nos resgata do não-ser, do vácuo da eternidade e de angústias intensas.…”

“…Destacamos, ainda, que conforme o sofrimento mental vinha se consolidando como "condição permanente" para as participantes, cada vez menos elas eram convidadas pelas pessoas do entorno a integrarem o mundo humano, de afetos e negociações, alimentando um ciclo de exclusão, alienação e sofrimento. A partir da aproximação com as participantes, consideramos que as perspectivas de ajuda nas situações vividas passam pela possibilidade de contarem com o olhar atento do outro sobre si, em uma postura de abertura e curiosidade, para que possam ser vistas em sua individualidade e auxiliadas a reatualizarem seus sentidos de si e do mundo, segundo suas potencialidades Casarini (2013).…”

“…Desta compreensão, deriva que esses processos não podem ser apreendidos pelos órgãos sensoriais do observador, tampouco pelo seu esforço intelectual, mas graças a uma experiência vivida comum, captada pelo ato de coparticipação afetiva, em sentido empático (Molaro, 2019). Para Casarini (2013), no âmbito da saúde, o entendimento da relação empática pode configurar um recurso que auxilia nas reflexões relacionadas ao desafio de incorporar a subjetividade na rotina de cuidados. Segundo a autora, em diálogo com a obra de Stein, o encontro autêntico, necessário ao ato empático, carrega em si a possibilidade de nos colocarmos diante do outro de modo aberto e curioso, permitindo que este outro se mostre em suas semelhanças e diferenças.…”