Diante do confronto entre as lógicas de produção e consumo das relações de dominação impostas pelo capitalismo e preocupações com o "fim do mundo" devido a um colapso ambiental em curso, o potencial dos modos de vida indígenas para evitar o sombrio avanço da conclusão da era humana no planeta tem sido sugerido por determinados discursos. No entanto, algumas questões precisam ser consideradas. As "boas (ou más) escolhas" adotadas por esses povos na verdade emanam de diferenças radicais nas lógicas que relacionam "os humanos" e "a natureza". Quem são os humanos responsáveis pela sinistra era geológica atual, batizada como Antropoceno? Antes de imaginarmos um pensamento indígena como solução para o adiamento do fim do mundo, não seria o caso de examinarmos sua diversidade? É preciso questionar quais humanidades agenciam transformações em quais mundos, e colocar em perspectiva outras escalas e pontos de vista da(s) história(s) do mundo, para além de eras geológicas. Afinal, os colapsos, aniquilamentos e recomposições são realidade para muitos povos e seres submetidos a relações de exploração, abuso e extermínio. A distopia que para alguns parece se aproximar já é realidade para outros há muito tempo. Percorrendo os territórios da Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo há mais séculos do que querem reconhecer os registros fundiários nacionais, os Tikmũ’ũn, em seus corpos e cantos, circulam por mundos produzindo subjetividades, dando vida a seus territórios devastados. Este contexto etnográfico nos leva a reflexões sobre a viabilidade da universalização de um modelo único de vida e pensamento, diante de uma infindável multiplicidade de mundos possíveis.