Da Tradição à Cultura: problemas de investigação nos estudos das ocupações indígenas no Planalto Meridional Brasileiro

Abstract

As reflexões aqui apresentadas são o resultado atual de diversas pesquisas conduzidas nos últimos anos cujo foco são as histórias dos contatos de grupos dos Jê meridionais com diferentes outros. Com base nelas, a intenção é abordar problemas de arqueologia, de etnologia e de história para pensar as ocupações indígenas e o patrimônio cultural nas regiões dos atuais sul de Goiás, Triângulo Mineiro, norte de São Paulo e leste do Mato Grosso do Sul. A partir do cotejamento entre os modelos até agora empregados para a interpretação dessas ocupações e os resultados de pesquisas empíricas atuais, espera-se identificar os limites desses modelos e propor uma nova pauta de investigações no diálogo interdisciplinar.

Da guerra à paz? Dicotomias que escondem múltiplos caminhos: análise histórica sobre os "Cayapó" aldeados em Maria I e São José de Mossâmedes

“…Ora, os próprios dados empíricos atestaram que os "Cayapó" ora se abriram ao exterior, ora se fecharam, não havia um modelo fixo, tudo dependia das motivações e necessidades internas. Dessa forma, baseando-se principalmente em Marcel Mano (2018), realizamos uma crítica aos modelos etnológicos graças a contribuição da documentação histórica. Posterior a isso, entramos na análise da guerra entre ambos os lados, tentando colocar o protagonismo indígena nas motivações que os levaram a guerrear, sendo um dos principais fatores a mitologia Jê, na qual a prática da estrutura se concretizou.…”

“…Tradicionalmente, os trabalhos que se ocuparam da participação dos indígenas na história da região em foco apontaram duas imagens: a dos cruéis e bárbaros e a dos coitados e indefesos, ambas, "alegorias da colonização". E embora já exista uma pequena bibliografia que reverta estas imagens (ALVES, 2017;JUNQUEIRA, 2017;MANO, 2011MANO, , 2012MANO, , 2015MANO, , 2018MORI, 2015; RODRIGUES, 2013), 2 ainda são muito grandes as lacunas sobre a história desses povos neste amplo território que foi as capitanias de São Paulo e Goiás.…”

“…Essas relações e estratégias, ao modificarem as estruturas através da prática contingencial de interesses subjetivos e objetivos, acabam fornecendo uma multiplicidade de caminhos históricos (redes não estruturadas de relações, seja através da guerra e/ou da aliança). Essas redes desenham histórias que parecem formar rizomas, tal como proposto por Deleuze & Guatarri (2011), ou mandalas, como proposto por Marcel Mano (2018), abandonando a ideia de uma história linear, que levaria da guerra à paz (a partir da década de 1770 quando se iniciam as políticas de aldeamento em Goiás), como será discutido ao longo do trabalho A leitura e análise documental a partir das mencionadas técnicas deverão contribuir para a construção de novas intepretações a respeito da história dos contatos entre frentes coloniais e povos indígenas, vistos até então sob a ótica e a lógica do não-índio, e não em seus próprios termos.…”

“…Em virtude de tudo que foi construído nessa pesquisa, podemos dizer que chegamos a 141um outro modelo para a análise da história indígena dos contatos. Apresentamos abaixo uma amostragem ilustrativa dos principais tópicos discutidos no decorrer da dissertação tomando a forma de uma mandala, assim como proposto por MarcelMano (2018), provando que os caminhos são vários e não seguem um padrão determinado, como outros modelos consideraram. E é assim que chegamos nesse ponto em aberto mascarado de ponto final.…”

Mundos em transformação: guerras e alianças entre os Jê e os luso-brasileiros nos sertões da América portuguesa – século XVIII

“…Depois de discutir essas questões e com base no modelo de mandala proposto por Mano (2018), que busca pensar como podem ser múltiplos e dinâmicosa partir de pontos de contato e de intersecções -, as diferentes disposições, necessidades e interesses dos sujeitos históricos, apresento uma representação geométrica (Imagem 7) formulada por mim para se compreender como se deu o contato entre os povos Jê e os luso-brasileiros no século XVIII.…”