O Brasil encontra-se atualmente no segundo período de transição democrática, após a experiência autoritária ocorrida no século passado. O novo regime tem dado sinais positivos de desenvolvimento, experimentando outras formas de participação para além do voto, como orçamentos participativos, audiências públicas, conselhos gestores e plebiscitos, por exemplo. A despeito disso, pesquisadores identificaram em suas pesquisas diferentes níveis de adesão ao regime democrático no Brasil, com distinção entre o apoio à democracia em termos abstratos e avaliativos. Em geral, esses pesquisadores têm verificado que a incorporação de valores abstratos pró-democracia tem se disseminado na sociedade nacional, ao mesmo tempo em que as avaliações sobre o seu funcionamento concreto têm se mostrado negativas. Se a existência dessa incongruência na população em geral pode ser interpretada como causa potencial de instabilidade política no médio e longo prazos, supomos que os seus efeitos sejam ainda mais relevantes quando se verifica entre aqueles que podemos chamar de elites políticas. Nesse sentido, este artigo tem por objetivo verificar a existência desse hiato entre o apoio difuso e o apoio específico à democracia entre indivíduos pertencentes a um segmento da elite não-estatal e aos eleitores do município de Maringá (PR), com vistas à compreensão de seus valores acerca do referido regime e da identificação de concordância ou discrepância em relação a amostras nacionais, regionais e locais quanto a essa incongruência. Os resultados apontaram culturas políticas diferentes entre as amostras, com destaque ao status social e mobilização cognitiva dos indivíduos que pertencem ao segmento de elite não estatal municipal.