No estado do Ceará, na região da Chapada do Apodi, uma articulação político-acadêmica, o Movimento 21(M21), se organiza para o enfrentamento do modelo econômico do agronegócio e suas consequências relacionadas à expulsão dos camponeses e à degradação do meio ambiente com utilização massiva de agrotóxicos. O M21 é constituído por diversos movimentos sociais e grupos acadêmicos que se articulam em defesa das lutas das comunidades do campo, da Chapada do Apodi no município de Limoeiro do Norte, Ceará, por meio de práticas discursivas que pretendem romper com as fronteiras tradicionais entre os saberes acadêmicos e os saberes populares. O objetivo deste artigo é compreender, a partir de uma perspectiva teórica descolonial e de uma proposta de análise retórica em uma abordagem crítico-discursiva (Nogueira de Alencar, 2005), como se dá a construção de significados identificacionais (Fairclough, 2003) nas práticas discursivas das (os)integrantes do M21. Por meio de etnografia realizada em espaços públicos em que militantes dos movimentos sociais, camponesas(es), educadoras(es), pesquisadoras(es), lideranças religiosas, lideranças políticas e moradoras(es) das comunidades da Chapada do Apodi falam sobre as ações de violência no campo contra pessoas e contra o meio ambiente, o artigo discute a performatividade, constitutiva de significados identificacionais híbridos para essa(e)s militantes por meio de um “falar da fronteira” e de “um falar do hibridismo” que atravessam esses encontros. Levando em conta a multiplicidade de agentes em interação, a diversidade de práxis educativa de cada coletivo envolvido no M21, assim como a literatura descolonial proposta por Paulo Freire, a análise considera que as implicações políticas do hibridismo presente nas práticas político-discursivas do M21 apontam para a constituição de um discurso de hibridismo emancipatório. Os espaços públicos de locução indicam que as(os) integrantes do movimento “estilizam” identidades subalternas descoloniais, a partir de uma criação retórica que elege a pedagogia do opressor e projeto desenvolvimentista como seu antimodelo, constituindo sentidos transgressores em torno de uma novo projeto político, educacional e econômico para os povos do campo.