A Amazônia em sua complexa e múltipla realidade simbólica é repleta de diversos elementos que se encontram e se transformam. Compreender fragmentos desse processo não esgota tal complexidade, mas amplia a compreensão da mesma. Criada em 1945 no Acre por Daniel Pereira de Mattos, a religião da Barquinha se mostra um movimento simbólico fértil – apesar de ser a linha ayahuasqueira menos explorada no campo dos estudos da religião brasileira – mostrando-se um desafio. O processo de simbolização e ritualística desse movimento religioso é um exemplo ímpar da complexidade do campo religioso brasileiro, uma vez que contempla três principais influências religiosas: a matriz negra, ameríndia e européia, envolvendo, principalmente, elementos da umbanda, candomblé, tambor de mina, pajelança amazônica, o uso da ayahuasca, catolicismo popular, kardecismo e esoterismo(s). O objetivo deste esboço é apresentar sucintamente a história da Barquinha como uma das expressões religiosas afro-amazônicas e tecer reflexões acerca das elaborações presentes na literatura sobre o tema acerca dos conceitos de sincretismo, ecletismo e hibridismo religioso, apontando este último como uma das melhores alternativas para delinear o processo de aglutinação e transformação deste campo simbólico.