Esta tese teve como objetivo examinar os saberes sobre a cosmética, ou seja, sobre a limpeza corporal e o embelezamento físico de uma pessoa, que circularam na língua vernácula por meio dos livros em Portugal e na América portuguesa ao longo do século XVIII, embora esse tema não esteja explicitamente registrado nas fontes históricas. Além disso, foram estudadas as informações de caráter técnico que oferecem as fontes e as receitas nelas contidas, incluindo os materiais que elas requerem para o seu preparo. Utilizou-se como perspectiva metodológica a análise dessas obras mediante alguns pressupostos. Um deles orientou-se pela materialidade e circulação dos livros, compreendendo que esses eram suportes físicos que circularam pelo Atlântico vinculando saberes sobre a cosmética. Foram apresentadas ainda as trajetórias de seus autores e o seu contexto. O outro se norteou pela textualidade e procurou-se observar quais saberes apareciam reiteradamente. Verificou-se que os saberes sobre a cosmética circulavam entre Portugal e a América portuguesa desde 1704 por meio dos livros e na língua vernácula, ao mesmo tempo que ocorria a movimentação de pessoas e de materiais.Entre 1704 e 1754, foram publicadas várias receitas de cosméticos para o rosto, os lábios, os mamilos, o nariz, os cabelos, as mãos, os dentes. Para preparar os cosméticos foi empregada uma miríade de insumos obtidos de fontes animais, minerais e vegetais, a nível global. Os saberes sobre os materiais da Ásia, da América do Sul e da Europa foram codificados nas farmacopeias e circularam por todo o mundo atlântico. Cirurgiões, boticários, jesuítas, os mediadores culturais, colocavam em circulação saberes de origens diversas, inovando técnicas e produtos voltados para o embelezamento, mas também mantendo uma tradição de algumas preparações cosméticas. Uma inflexão quanto ao embelezamento parece ocorrer entre 1785 e 1794, com uma diminuição das formulações. Os livros sobre higiene, escritos frequentemente por médicos, no vernáculo, incorporavam os ideais iluministas de progresso humano e educação popular. Não foi possível encontrar uma obra especializada sobre a cosmética, mas foi possível identificar tais saberes no trânsito atlântico, a partir de 1704 e ao longo do século XVIII, que possibilitaram "aprender" a embelezar e a limpar o corpo em Portugal e na América portuguesa.Palavras-chave: Cosméticos. Farmácia e cosmetologia. Farmacopeias. História cultural. História da ciência. História da educação. História moderna. Língua portuguesa.