Brincar na perspectiva psicoetológica: implicações para pesquisa e prática

Abstract

This study focuses on play from a psychoethological perspective and examines the implications for research and practice. Over the past decades, children are provided with more educational opportunities and more access to adult-led activities, albeit suffering a severe lack of self-directed play. This fact is worrying when we consider the indications in animal models that self-directed play is important for the development of the social brain and emotional self-regulation. This essay represents an invitation-justification for children to recover opportunities for natural play, of which they have been deprived. The more we know about play, the more suitable the opportunities we can offer them will be. We need to conduct further research on this topic, in an intellectual environment that enables collaboration between ethologists, psychologists, educators, and neuroscientists, promoting a bidirectional interaction between theory and practice.

Sociabilidade, brincadeira e compreensão social: um estudo psicoetológico em crianças pré-escolares

“…as interações lúdicas livres são ecologicamente relevantes para a ontogênese da espécie humana (Bateson & Martin, 2013;Bichara et al, 2009;Brown, 2009;Bussab, 2003;Gray, 2013;Otta, 2017;Pedrosa, 2005). Apesar da importância desse tipo de atividade para a criança, as pesquisas em psicologia ainda têm olhado pouco a brincadeira livre a partir de um recorte interacionalcertamente, pela dificuldade de apreensão da interação como unidade de análise (Carvalho, 1988(Carvalho, , 2015: a psicologia do desenvolvimento contemporânea ainda persiste com o foco no indivíduo.…”

“…Iniciativas pontuais de ambas as áreas do conhecimento (Pellegrini, 2009, Pellegrini & Smith, 1998Smith, 2010;Bateson & Martin, 2013;Bichara, et al, 2009;Gosso et al, 2005;Bussab, 2003, Otta, 2017, Power, 2000 Chimpanzés usando galhos como se fossem bonecas (Kahlenberg & Wrangham, 2010), grupos de macacos japoneses e macacos rhesus brincando com pedregulhos (Nahallage & Huffman, 2012), brincadeiras de macacos-prego (Resende & Ottoni, 2002), golfinhos (Spinelli, Nascimento, & Yamamoto, 2002), ratos e hamsters (Vieira & Sartorio, 2002) (Bussab, 2003;) e de posição no grupo social (Pellegrini, 2011).…”

“…Nesse sentido, acreditamos que compreensão social e desenvolvimento social podem constituir uma via de mão dupla com consequências para a exibição de comportamentos ajustados às demandas sociais. (Blurton Jones, 1981;Carvalho, 1988;Carvalho et al, 1999;Hinde, 1970;Pellegrini, 2013;Piccinini, & Seidl-de-Moura, 2007;Smith, 2011); procuramos fazer uma síntese dos estudos sobre interação de crianças a partir de uma perspectiva psicoetológica para alçar comportamentos importantes já documentados (Bateson & Martin, 2013;Blurton Jones, 1981;Brown, 2010;Bussab 2003;Gray, 2013;Lansford & Parker, 1999;Lordelo & Carvalho, 2006;Otta, 2017;Smith, 2010); e nos inspiramos nas categorias usadas pelas pesquisas que investigavam a compreensão social da criança para resolver problemas em situações sociais (Brownell et al, 2006;, Hughes, 2011Hughes & Dunn, 1998;Maguire & Dunn, 1997;Ramani, 2012;Ramani & Brownell, 2013 Outro ponto que salientamos é que a maioria dos dados acumulados pela literatura sobre compreensão social envolve crianças ocidentais de classe média (Hughes, 2011;Shahaeian, 2015). Mais pesquisas precisam ser feitas com crianças em diferentes contextos culturais e com famílias de diferentes níveis socioeconômicos, para investigar as similaridades e as diferenças no desenvolvimento da compreensão social.…”

Etologia, cognição e sistemas em desenvolvimento

“…Por isso, os psicólogos e etólogos têm defendido o incentivo do brincar pela sua importância, para permitir que as crianças recuperem a natureza que vem sendo retirada das suas vidas (Otta, 2017).…”

“…No entanto, os adultos precisam dessas habilidades para viver. Então surgem vestibulares que cobram habilidades "socioemocionais", e surgem escolas que passam a "ensinar" (ou tentar ensinar) como resolver testes sobre habilidades socioemocionais (Gray, 2013;Otta, 2017). No entanto, se valorizamos isso e se o desenvolvimento se dá no contexto social, urge criar condições para que essas habilidades possam emergir pela experiência dos indivíduos em seus contextos de desenvolvimento: elas também não podem ser transferidas como pacotes para as mentes.…”