Etologia, cognição e sistemas em desenvolvimento

Superando o cérebro: Andy Clark e a cognição corporeada

“…Esther Thelen e Linda Smith baseiam sua pesquisa. A premissa teórica é a de que a unidade básica de análise da psicologia do comportamento não pode ser o ser humano em si, separado de seu ambiente, mas o ser humano agindo dentro de interações dinâmicas com este, flexivelmente restrito pelos impedimentos do ambiente e do corpo (Resende, 2019a(Resende, , 2019bThelen, 2002). O organismo, trocando energia com o ambiente como um sistema aberto, atenua a importância da origem da perturbação ou da mudança de energia -seja interna ou externa, o foco é nas transformações que surgem, a partir daí, nesse sistema.…”

“…O conceito diz sobre um conteúdo afetivo que não consegue ser elaborado pelo sujeito e que, então, é depositado no ambiente, a fim de se mostrar mais claro, mais "elaborável" e, até mesmo, protegê-lo da angústia proporcionada por esse elemento conflituoso (Klein, 1946(Klein, /1991 utilizando-se de coordenação entre os participantes de um dado grupo. Essa mesma lógica distribuída se encontra em Ades (1993), que postula ser a memória um processo apoiado na interação com estímulos (sejam eles estáveis, no ambiente, ou, até mesmo, o comportamento de outros animais), verdadeiros "testemunhos" das ações do organismo, e também nos trabalhos de Resende (2019aResende ( , 2019b, que, a partir da discussão dos sistemas em desenvolvimento e da etologia, localiza o organismo em um papel mais ativo em seu desenvolvimento motor e na aprendizagem social, diluindo as dicotomias de inato e aprendido.…”

Brincadeira como um facilitador no conhecimento da realidade do outro: um estudo de encontros entre crianças Guarani e não-indígena

“…Quando nascem, os bebês são capazes de identificar seus cuidadores e são ativos na formação de vínculos (Resende, 2019) As ativações motoras seriam responsáveis pelo mimetismo, compartilhamento de metas e, por fim, a emulação do comportamento enquanto as camadas emocionais iniciariam com o contágio emocional, passando pela preocupação compreensiva e, por fim, a tomada de perspectiva empática. Todas essas "camadas" descritas para a empatia em seres humanos podem acontecer em diferentes complexidades para outros animais, pois podemos compartilhar partes dessa estrutura que compõe o comportamento.…”

“…Em contraste com a visão clássica da evolução, não podemos entender o ser humano como um produto pronto, fruto de um processo de desenvolvimento de milhares de anos. Pois como elucida Resende (2019), o desenvolvimento humano não é o desabrochar de traços prédefinidos pela evolução, ele é uma construção. Essa formação vai depender de fatores internos e externos, recursos disponíveis, ambiente, tempo histórico, cultura, de forma que qualquer diferença (e.g.…”

“…A cognição, muitas vezes vista como um processo individualizado, tem sido também considerada como um processo distribuído para além do indivíduo, que conta com a participação de agentes internos (neurais) e externos (corpo e ambiente) de representações, agindo em interação, ao invés de ser algo contido "dentro da mente" (Marques- Santos & Resende, 2022;Resende, 2019). Essa concepção de cognição viabiliza que a criança possa aprender tanto com a herança deixada pelos seus antecessores no ambiente, como com as novas escolhas que faz de parceiros e brincadeiras, desenvolvendo novos nichos e práticas culturais (Flynn et al, 2013).…”