“…Além disso, a escolha por analisar especificamente A Santa Joana dos Matadouros dentro do conjunto da obra de Bertolt Brecht justifica-se porque, como nota Roberto Schwarz em "Altos e baixos da atualidade de Brecht", "em tudo o que diz respeito à vida do capital", essa peça "brilha incrivelmente", pois "o nosso próprio universo, da Lua ao patrimônio genético, no momento tende a ser cotado em Bolsa" (SCHWARZ, 1999, p. 136), ou seja, as instâncias de violência simbólica nessa obra estariam intrinsecamente ligadas à manutenção da ordem capitalista, na qual o acúmulo de capital é o valor a ser perseguido. Em outras palavras, A Santa Joana dos Matadouros seria, retomando Szondi (2001) e Costa (2010), uma obra exemplar do caráter ao mesmo tempo pedagógico e científico, mas nunca reducionista, do teatro épico brechtiano, posto que, como se verá adiante, as práticas de violência simbólica analisadas -as dos magnatas da carne, em especial Bocarra, contra os trabalhadores -não foram predefinidas por forças maiores das quais mesmo seus perpetradores seriam reféns, mas escolhas deles próprios em prol dessa manutenção da ordem capitalista e dos benefícios que obtêm com ela.…”