Abstract:Neste ensaio tentamos demonstrar que o presente e o futuro também são história e devem ser dimensões da historiografia. Para isso, retomamos episódios de nosso livro Almanaque da COVID-19 e algumas de nossas leituras de momentos-chave do ano a fim de refletir sobre o que temos chamado historicidade atualista. Em alguns momentos, lançamos mão da retrospectiva, em outros, optamos por manter o efeito anacrônico de certas passagens a fim de evidenciar o aspecto contingente de toda representação do tempo. Dividimos… Show more
Na experiência de tempo atualista, o futuro nada mais é que uma nova versão do presente, como se o poder de agência dos sujeitos diminuísse. O presente artigo analisa dois tipos de ações que podem contribuir para o enfraquecimento de tal lógica: a preservação de acervos de museus através da digitalização e a discussão a respeito dos monumentos urbanos. A hipótese levantada é a de que a virtualização de museus e a modificação de monumentos possuem o potencial de atualizações históricas, desde que compreendam, assim como a narrativa historiográfica, os legados do passado e os projetos de futuro que fazem parte do presente, visando à defesa de valores democráticos e de uma sociedade mais igualitária. Conclui-se, por fim, que uma melhor compreensão do presente e a renovação de uma expectativa de futuro na qual sejamos agentes, e não apenas espectadores, pode ser alcançada através da narrativa histórica como ação contra-atualista, da incorporação de variadas percepções do tempo na historiografia e da abertura de possibilidades no futuro.
Na experiência de tempo atualista, o futuro nada mais é que uma nova versão do presente, como se o poder de agência dos sujeitos diminuísse. O presente artigo analisa dois tipos de ações que podem contribuir para o enfraquecimento de tal lógica: a preservação de acervos de museus através da digitalização e a discussão a respeito dos monumentos urbanos. A hipótese levantada é a de que a virtualização de museus e a modificação de monumentos possuem o potencial de atualizações históricas, desde que compreendam, assim como a narrativa historiográfica, os legados do passado e os projetos de futuro que fazem parte do presente, visando à defesa de valores democráticos e de uma sociedade mais igualitária. Conclui-se, por fim, que uma melhor compreensão do presente e a renovação de uma expectativa de futuro na qual sejamos agentes, e não apenas espectadores, pode ser alcançada através da narrativa histórica como ação contra-atualista, da incorporação de variadas percepções do tempo na historiografia e da abertura de possibilidades no futuro.
Esse artigo se propõe a buscar, na formação do imaginário da Inteligência Artificial dos anos 1990 e 2000, as razões sociais da construção do otimismo em relação ao futuro, com a hipótese de que disciplinas como a Inteligência Artificial lançam-se à esfera pública como produtoras de imagens de futuro poderosas o suficiente para que se tornem, na linguagem popular, um tipo de consciência histórica adequada ao neoliberalismo, examinando o caso exemplar de Raymond Kurzweil. Inicialmente, serão abordados alguns pressupostos da cultura sci-fi na qual se formam esses discursos. Depois, será dada uma atenção à discussão da importância da biografia do profeta, Kurzweil, na intenção de analisar a importância do tema do guru fundador, do profeta, na construção social do otimismo com a tecnologia junto com a nova ideia de personalidade. Em seguida, serão analisados, a partir dos pressupostos anteriores, as modalidades de consciência histórica que se propagam através deles: o agenciamento de si no futurismo, a questão da tecnologia e o tipo de relação entre destino histórico e destino individual. Nossa hipótese é que os futuristas não são os profetas do futurismo, mas do atualismo, e de que a construção e a fortuna pública desse imaginário tem como coluna espinhal a ideia de que a biografia de um indivíduo exemplar é nada menos do que uma reprodução em micro escala da biografia do mundo.
“Atualismo” ou “historicidade atualista” é um conceito que se tornou parte da teoria da história recente. Tal conceito desenvolve-se em duas etapas. Em primeiro lugar, ele apresenta caráter histórico-transcendental, no sentido de que envolve condições de possibilidade segundo as quais o tempo pode ser historicamente experienciado na contemporaneidade. Em segundo lugar, ele é uma ferramenta heurístico-historiográfica, no sentido de que permite reunir e analisar sob um foco conceitual bem determinado experiências históricas atualistas. Assim sendo, é possível observar que a salvaguarda transcendental heideggeriana à qual recorrem Pereira e Araujo é uma forma de preservar a função heurística do conceito, impedindo que ele se confunda com a realidade sob sua extensão. Em consequência, a crítica de Pereira e Araujo com relação ao “presentismo” de Hartog como conceito heurístico-historiográfico é discutida, no entanto, ressalva-se que essa crítica não pode ser estendida ao “presente amplo” de Gumbrecht.
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