“As meninas hoje tão muito soltas”: os discursos institucionais que fundamentam o processo de regulação moral

Abstract

Resumo Este artigo trata da operacionalização das normas sociais por meio dos discursos institucionais de duas escolas do ensino fundamental II nas capitais São Paulo e Salvador. Nas interações cotidianas, os atores institucionais põem e explicam as regras de gênero nas quais as pessoas se apoiam para construir sua identidade e conduzir a vida. Sobressai uma discussão acerca das mudanças comportamentais de meninas na contemporaneidade, situando conteúdos normativos e valorativos implicados nos constrangimentos morais que permeiam as relações cotidianas entre direção, inspetoras de disciplina, professores e as estudantes. Esse intricado processo de regulação do comportamento feminino é condicionado por uma visão adultocêntrica e alarmista sobre as dinâmicas de construção da identidade de gênero entre adolescentes. As etnografias ainda permitem vislumbrar como as especificidades contextuais podem contribuir na polarização de modos de ser menina ou no alargamento de possibilidades dentro do espectro de feminilidade boa/má.

Sexo e Sexualidade: O que adolescentes do Ensino Fundamental têm a dizer?

“…Apesar da maior parte dos respondentes ser do grupo feminino, os meninos são a maioria dos que afirmaram já terem iniciado a vida sexual. Uma possível explicação para a mais tardia iniciação sexual das meninas reside na influência e controle social mais eficiente diante ao corpo e sexualidade feminina [7,17].…”

“…Em tais representações se dão a afirmação da virilidade e feminilidade, perpassando pelos sentidos identitários diversos, como "ser homem" ou "ser mulher" [2,50]. No entanto, diversos fatores, individuais e sociais, influenciam a percepção sobre a iniciação sexual entre os jovens [17]. No tocante à virgindade, o grupo masculino desse estudo centrou seu discurso na diferenciação entre homens e mulheres no processo de iniciação sexual.…”

“…Já os corpos das meninas são, desde cedo, controlados, seja pela família, pelos amigos e/ou pelos meios de comunicação [28,50]. O tabu que pesa sobre a iniciativa sexual das mulheres reflete a subordinação e o controle que setores dominantes da sociedade estabelecem sobre os instintos e desejos femininos e que tem como consequência representações sociais que afastam a sexualidade da identidade feminina [17,18].…”

“…Dentro desse contexto, as questões de gênero têm se mostrado fundamentais no entendimento da identidade e comportamento sexual dos adolescentes [16,17]. O conceito de "gênero" é entendido, neste trabalho, como uma construção social que uma dada cultura estabelece ou elege em relação ao que significa o ser "feminino" e o "masculino" [5,12].…”

Entre norme et subversion : (re)constructions du genre à l’école

“…La toile de fond de la régulation morale compte des processus de rivalité et de dispute donnant lieu à la caractérisation et à la hiérarchisation des sujets et des groupes, qui tissent différents types de relations entre jeunes (Pereira, 2012 ;Fjaer, Pedersen & Sandberg, 2015 ;Miller, 2016). Or, les critères de reconnaissance sociale sont délimités par les discours régulateurs de la sexualité, de l'apparence et du comportement (Sales & Paraíso, 2013 ;Guimarães, 2019).…”