Propõe-se uma abordagem integrada dos diferentes usos de levar, a partir de uma perspectiva construcionista baseada no uso (Bybee, 2010; Traugott e Trousdale, 2013; Goldberg, 1996, 2005; Langacker, 2008; Croft, 2001; entre outros). Assim, além de se caracterizarem alguns dos principais empregos desse verbo nos dados do Corpus do Português (Davies e Ferreira, 2008), apresentam-se hipóteses acerca das relações de herança que as construções mais idiossincráticas mantêm com a Construção de Movimento Causado (CMC) – considerada o contexto de uso mais prototípico do verbo levar (Stein, 2020; Paz e Silva, 2009). Com relação aos empregos considerados, constatou-se que levar ocorre preferencialmente em construções de verbo-suporte, como [levar vantagem] e [levar a vida], ambas vinculadas ao esquema [levar SN]; também são muito comuns no corpus construções mais procedurais, a exemplo do conector [levando em conta], que estabelece relação de causa do tipo ‘se X, então Y’. Quanto às relações de herança, há evidências de que o esquema de verbo-suporte [levar X] viabiliza, pelo menos em parte, diversas construções independentes, funcionando como ponto de contato entre elas e a CMC. Embora as construções elencadas não sejam descritas exaustivamente, apresenta-se aqui um inventário de tais unidades, para que sejam investigadas com mais detalhe em trabalhos futuros.