O artigo questiona três concepções de políticas públicas que se apresentam hoje como propostas alternativas ao paradigma econômico neoliberal e à precarização do mercado laboral que veio em sua esteira: desenvolvimento local, empreendedorismo e governança urbana, tendo como objeto as empresas que compõem o Arranjo Produtivo Local de Tecnologia de Informação da região de Londrina (PR) , o qual se insere dentro das políticas públicas aqui problematizadas. Os dados coletados do MTE demonstram que essas empresas tendem a aportar as atividades rotineiras presentes nas cadeias de valor das grandes transnacionais do ramo, que são mais sujeitas às vulnerabilidades laborais postas pela mobilidade que o capital ganhou com a globalização da economia. Assim, diferente da perspectiva oficial que orienta essas políticas, os resultados remetem a indicadores de precarização já consensuais na literatura especializada sobre o tema: baixo grau (relativo) de escolaridade, salários em torno de 0,5 a um salário mínimo, e alto índice de rotatividade. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento local. Empreendedorismo. Governança urbana. Arranjos Produtivos Locais. Precarização do trabalho.
INTRODUÇÃOPretende-se colocar em questão três concepções de políticas públicas voltadas para a geração de renda que, conjugadas, se apresentam hoje como respostas ou propostas alternativas à precarização laboral que veio na esteira do paradigma econômico neoliberal: desenvolvimento local, empreendedorismo e governança urbana. Essas noções ganharam relevância na literatura especializada a partir da dé-cada de 2000, quando os efeitos deletérios das políticas liberalizantes ao comércio exterior sobre o mercado de trabalho no país se tornaram mais evidentes e prementes. Desde então, assiste-se a reformulações substanciais na concepção de administração pública com impactos nas ações voltadas para a geração de emprego e renda, agora marcadas por uma abordagem empreendedora que reorienta o projeto de desenvolvimento nacional para projetos de desenvolvimento local. É nesse contexto que as cidades emergem como lócus privilegiado de atuação dessas políticas.De acordo com Telles (2007, p. 207):[...] é o modo como a ordem das coisas é configurada, construída e descrita num plano de referência que desloca os termos do que está posto como "verdade" e "fato incontestável", e é nesse mesmo deslocamento que essas verdades e esses fatos incontestáveis se desfazem como tais para se refazerem num outro diagrama de relações [...] A força da crítica não está na retórica da denúncia da barbárie que hoje se instala no mundo. A potência da crítica se faz num parâmetro descritivo que desloca ou redefine a ordem das coisas e suas relações, permitindo, a partir daí, estabelecer uma pauta de questões que não podem mais ser resolvidas nos termos habituais e que abre, portanto, a fenda a partir da qual a imaginação crítica pode se mostrar fecunda.É dentro desse espírito que se levanta a hipótese, ou "fenda", que será aqui desenvolvida. Ou seja, a de que a perspectiva empreendedora que vem no...