O artigo explora alguns discursos e práticas de jovens índios Xokó, os quais apontam para estratégias de produção da socialidade do grupo, pequeno povo indígena ribeirinho situado no estado de Sergipe, Brasil, tendo em vista o seu processo de territorialização presente na própria vida diária. Das diversas estratégias, aquela que faz uso de linguagens das artes, objeto de análise neste texto, alcança grande importância para o grupo mais jovem, uma vez que envolve um tipo inovador de economia nativa de comunicação intersubjetiva com os não índios, assim como entre eles mesmos. O uso da escrita e da linguagem teatral toma o seu devido espaço quando está em causa, para os Xokó, o ato de transmitir, eficiente e eficazmente, aos diversos interessados que constantemente os procuram, o significado étnico do seu modo de ser e o percurso histórico que experimentaram para ser o que são na vida contemporânea.Palavras-chave: índios Xokó; juventude; história; socialidade; arte introdução Inicio este texto com um breve panorama. Os Xokó são um pequeno povo indígena ribeirinho situado entre os estados de Sergipe e Alagoas, Nordeste do Brasil. Ocupam uma ilha e uma porção de terras continentais no baixo rio São Francisco, margem direita a jusante do rio, no município de Porto da Folha, estado de Sergipe. Trata-se de um povo cujo território e ascendência reporta-nos às missões jesuíticas e capuchinhas estabelecidas no final do século XVII, e encarregadas de efetuar conversões relativamente unilaterais dos sistemas de crenças das populações nativas americanas, i.e., convertê-los ao cristianismo, assim como integrá-los, num momento posterior, ao sistema social e laboral da nova colônia portuguesa. Não realizo, 1 Programa de Pesquisas sobre Povos Indígenas no Nordeste Brasileiro. Mestre em Antropologia (PPGA/ UFBA). Email: natelson81@hotmail.com pag. 44 CADERNOS DE ARTE E ANTROPOLOGIA aqui, uma descrição mais densa dessa história, apenas recorro a este e outros aspectos por necessidade de fornecer ao leitor breves contextualizações.A história dos índios Xokó é demarcada por conflitos violentos por terras e territórios, infortúnios bastante comuns a praticamente todas as populações nativas americanas. Trata-se de uma característica muito persistente ainda na contemporaneidade, uma vez que diversas populações culturais e étnicas, tais como quilombolas, ribeirinhos, pescadores, camponeses, sem terras, entre outras, continuam sendo, no mundo rural, alvos destacados de pressões do capital. Isso ocorre, muitas vezes, à margem da constituição brasileira e dos tratados internacionais em vigor. Casos contemporâneos amplamente conhecidos são aqueles que envolvem os Guarani-Kaiowa e o agronegócio, e a instalação da usina hidrelétrica de Belo Monte, marcada por lacunas procedimentais estatais com riscos à segurança biológica, cultural e territorial de grandes porções da Amazônia brasileira, como o rico Parque Indígena do Xingu.Recentes propostas polêmicas de portarias e emendas constitucionais voltadas às Terras Indígenas têm tensionado gravemen...