A Psicanálise Vincular e a preparação de crianças para a adoção: uma proposta terapêutica e interdisciplinar

Abstract

Resumo. O presente artigo tem por objetivo refletir sobre o uso da psicoterapia psicanalítica vincular em um contexto de preparação de crianças para uma adoção. Por meio do relato de um caso, será comentada a utilização desse referencial no atendimento conjunto a duas irmãs encaminhadas pela justiça para um serviço-escola, com um duplo propósito: avaliar a inclusão de ambas em uma família adotiva e ajudá-las a elaborar o trauma de devoluções anteriores. Concluiu-se que a utilização do enquadre e da escuta psicanalítica na preparação de crianças para a adoção demonstrou sua eficiência no sentido de oferecer um espaço para a elaboração das angústias envolvidas nesse tipo de processo.Palavras-chave: vínculo fraterno, Psicanálise Vincular, adoção.Abstract. This article addresses the use of the psychoanalytic psychotherapy linkage under a context of preparing children for adoption. By a clinical case, we discuss the use of this thesis in the joint treatment of two sisters sent by court to the school-clinic, with a dual purpose: to evaluate their inclusion in an adoptive family and to assist them to elaborate the trauma of previous devolutions. The conclusion is that the use of the psychoanalytic setting in the preparation of the children for the adoption has demonstrated its efficiency in order to provide a space for the elaboration of the anguish involved in this process.Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 International (CC BY 4.0), sendo permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados.

As Adoções Necessárias no Contexto Brasileiro: Características, Desafios e Visibilidade

“…Os instrumentos utilizados nas publicações foram diversificados. Nos estudos qualitativos foram utilizados: entrevista semiestruturada (Fônseca et al, 2009;Levy, Diuana, & Pinho, 2009;Oliveira & Pereira, 2001;Santos et al, 2011;Queiroz & Brito, 2013;Otuka et al, 2013;Merçon-Vargas et al, 2014;Dantas & Ferreira, 2015;Silva & Benetti, 2015;Gomes & Levy, 2016;Mozzi & Nuemberg, 2016;Andrade, Hueb, & Alves, 2017;Paulina et al, 2018;Sampaio et al, 2018), diário de campo (Merçon-Vargas et al, 2014;Bicca & Grzylowski, 2014;Silva & Benetti, 2015;Combier & Binkowski, 2017), narrativa de vida (Vieira & Henriques, 2013;Vieira et al, 2014), questionário sociodemográfico (Otuka et al, 2013;Mozzi & Nuemberg, 2016), observação direta (Queiroz & Brito, 2013;Merçon-Vargas et al, 2014); documentos (Machado et al, 2015;Speck et al, 2018), questionário (Dugnani & Marques, 2011;Contente, Cavalcante, & Silva, 2013), entrevista em profundidade (Machin, 2016), entrevista com pergunta disparadora (Silva & Santos, 2014), procedimento desenho-estória com tema (Andrade et al, 2017) e narração de histórias infantis (Andrade et al, 2017). O estudo com o enfoque quanti-qualitativo (Silva & Cavalcante, 2015) utilizou entrevista semiestruturada, inventário de rotina e diário de campo para a coleta dos dados.…”

“…Outro comportamento característico é a testagem, a criança que foi adotada pode testar o amor dos pais para ver até que ponto eles são capazes de suportar e não vão devolvê-la, ou seja, eles procuram verificar se realmente não vão ser abandonados e devolvidos novamente. O pais por adoção devem saber suportar e não desistir da criança, de modo que, ao sobreviver às manifestações de sentimentos negativos, podem construir uma relação mais segura com o filho (Gomes & Levy, 2016;Silva & Benetti, 2015;Verceze, Silva, Oliveira, & Sei, 2015;Sampaio et al, 2018;Speck et al, 2018).…”

Parentalidade e adoção em casais de homens: uma análise psicanalítica vincular

“…De forma geral, eram encontrados núcleos de resistência, em especial por parte do Ministério Público, mas também no Judiciário, em relação à parentalidade exercida por casais homossexuais, com a alegação de que essa conjugalidade ou até mesmo essa formação familiar não tinha respaldo legal e seria portadora de risco às novas gerações (Uziel, 2005), o que vêm mudando a lentos passos em consonância com os conhecimentos que a psicologia tem provido (Gomes & Levy, 2016).…”

“…Na preparação dos pretendentes, mais conhecida e comum, também se trabalham questões como a desmistificação do processo de adoção. Aqui o Judiciário não garante um modelo de proposta a ser desenvolvida, assim sendo, este mesmo é variável em cada Estado do Brasil, que pode variar desde grupos informativos a grupos reflexivos com finalidade terapêutica (Gomes & Levy, 2016;Alvarenga & Bittencourt, 2013). Butler (2003), em artigo que tem em seu título o provocativo questionamento: O parentesco é sempre tido como heterossexual?, pontua com clareza a crença na exigência cultural da presença de um homem e uma mulher para gerar uma criança e de que a mesma tenha esse ponto de referência parental dual, a fim de garantir sua iniciação na ordem simbólica, ou seja, num conjunto de regras que ordenam e apoiam os sentidos de realidade e de inteligibilidade cultural.…”

Experiência materna, psicodinamismos e o desenvolvimento do self de mulheres e meninas ví­timas de abuso sexual: um estudo transgeracional

“…Esta teoria surge a partir de questões teóricas e práticas da psicanálise de família, de casal e de grupo, as quais concebem que o sujeito, para além de uma realidade construída de fantasias inconscientes e vida pulsional (intrapsíquica), é constituído no espaço da intersubjetividadebaseado no encontro entre duas ou mais pessoas que leva a reconhecer novos elementose compreendido em sua dimensão familiar, geracional, social e cultural. Logo, é a partir do vínculo que se forma um sujeito e sua ligação com os processos grupais e sociais; este é o objeto de estudo da Psicanálise Vincular (Gomes & Levy, 2016;Puget, 2000;Rehbein, & Chatelara, 2013). Segundo Puget (2000), "vínculo é uma construção que se origina como efeito de um trabalho realizado entre dois ou mais sujeitos, como uma produção psíquica resultante da imposição de presenças (alteridade)" (p.75).…”