O primeiro ano do governo Lula surpreendeu a muitos pela rígida ortodoxia aplicada na direção da economia. Agradando aos "mercados", a conduta rapidamente desfez a bomba da profecia (auto-realizante) da "argentinização" do Brasil ou da "De-La-Rualização" de Lula. Incomodando os adeptos de Fernando Henrique Cardoso, foi chamada de "plágio mal feito" ou ironizada pelos séqüitos do grupo que esteve no poder na quadra passada. Por outro lado, a polí-tica econômica foi vista de maneira muito enviesada por diversos membros notórios do grupo que, ao menos para o público, estava mais próximo do então candidato Lula. Além do desconforto por ela mesma, ficou também fortemente sugerido que o caminho da ortodoxia financeira impedia qualquer política social ou setorial consistente. O espanto não foi evidentemente individual. Ele ecoava a apreensão de setores das classes médias que esperavam do governo petista 5 * Agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo -FAPESP e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -CNPq pelo financiamento das pesquisas que propiciaram o presente artigo. Agradeço também a leitura estimulante de Mauro Zilbovicius, Eduardo Noronha e dos pareceristas anônimos de Dados, bem como as sugestões de Afrânio Garcia, Frédéric Lebaron e Marie-France Garcia a versões anteriores apresentadas na École des Hautes Études en Sciences Sociales durante o período em que lá permaneci financiado pela Coordenação de Aperfeiço-amento de Pessoal de Nível Superior -CAPES. Evidentemente, sou o único responsável pelo texto.