A Mulher E a Família: Agendas Pentecostais Na Disputa Pela Gramática Dos Direitos Humanos

Abstract

Antes de assumir o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do governo Bolsonaro, Damares Alves ficou conhecida por um vídeo no qual narra sua experiência de conversão vivida no alto de uma goiabeira. Reconhecida como pastora pentecostal, Damares é a primeira-ministra desde a fundação do Ministério, ocorrida em 1998, a declarar sua religião e a associá-la a seu engajamento político. Em sua posse, ela afirmou que, se o Estado era laico, a partir de agora ele teria também uma ministra terrivelmente cristã. A ascensão de Damares como ministra pode ser entendida como um marco em meio a um processo que colocou parte do segmento evangélico pentecostal na disputa pela gramática dos Direitos Humanos no país. Este artigo pretende analisar alguns sentidos dos direitos humanos no Estado Brasileiro, com foco no Poder Executivo. O objetivo central do artigo é analisar como sujeitos religiosos nas secretarias e comissões centrais traduzem a religião em políticas públicas e buscam o reconhecimento público de suas práticas como humanitárias. O artigo enfoca, portanto, o papel de sujeitos religiosos na composição de cargos na Secretaria da Família e na Secretaria da Mulher entre os anos de 2019 e 2021.

Nasce um corpo: transformações contemporâneas no conhecimento produzido entre a Sociologia e a Saúde

“…De modo semelhante, pesquisas recentes mostram que a maneira como o Estado opera a categoria “família” é um indicativo importante de sua compreensão sobre esse trabalho concreto executado pelos sujeitos no espaço doméstico 44 , 45 , 46 , 47 , 48 , 49 , 50 , 51 , 52 . Em um contínuo com as questões de saúde, toda a legislação sobre família é essencialmente uma legislação sobre o corpo, abordando que formas de atividade sexual e procriação são permitidas e quais os direitos de certos sujeitos sobre os corpos dos outros.…”

“…O posicionamento do Estado, ao operar esse tipo de transferência, aponta para uma reinterpretação em relação à sua própria função, mas também uma posição na disputa sobre o que devem ser políticas públicas ou Direitos Humanos, por exemplo 44 , 48 , 49 . Por fim, mas não menos importante, cabe observar que esse tipo de transação se opera no meio político justamente apagando categorias analíticas como gênero, classe e raça do modus operandi em prol de categorias nativas do senso-comum que reforçam justamente a ideia de natureza, como “família” ou “mulher”, escondendo as estruturas que produzem os problemas que, ao menos em tese, o Estado deveria se dispor a enfrentar em prol de um bem coletivo 52 .…”

Participation On and Beyond the Boundaries: Brazilian Youth Activism in Radical Right Movements

“…Like Aline, in particular, other young women interviewed for the study refer to anti-feminist or pro-life agendas as the main drivers that brought them into activism. Moreover, while all interviewees present themselves as Christians, whether Catholic or Evangelical, the trajectories of these young women are influenced by the Neopentecostal Church, which has impacted the vocabulary of human rights in the country (Teixeira & Barbosa, 2022).…”

Nos limiares do(a) político(a): (des/re)construindo trajetórias e narrativas de jovens ativistas das Direitas Radicais no Brasil e na Alemanha

“…Nesse sentido, também houve pesquisas que buscaram explorar o fenômeno a partir dos traços do autoritarismo e da personalidade autoritária -tal como abordada no interior da Teoria Crítica (González, Baquero & Grohmann, 2021) -e outros que entenderam que o neoliberalismo era a chave principal de análise, envolvendo a fundação de novas subjetividades (Dardot & Laval, 2016;Safatle, Silva Junior & Dunker, 2020). Por fim, muitas pesquisas também se debruçaram sobre a expansão do neopentecostalismo (Dantas, 2013, Lopes & Dantas, 2017Teixeira, 2019;Teixeira & Barbosa, 2022) e o entrelaçamento entre religião e política. Frente a um fenômeno complexo e ainda em curso, considera-se normal a existência de uma miríade de perspectivas.…”

“…Embora todos os entrevistados tenham mencionado ser cristãos, com uma maioria de católicos, a religião só foi tema principal trazido nas trajetórias de jovens mulheres brasileiras, identificadas como evangélicas. Isso vai ao encontro das pesquisas que indicam que, no contexto brasileiro, há uma influência neopentecostal nas agendas e na adesão às Direitas Radicais, influenciando centralmente a trajetória de mulheres(Teixeira & Barbosa, 2022). de auxílio mais amplas, houve a exigência de isolamento de um grupo muito maior do que no Brasil.…”