ResumoProponho neste artigo a hipótese de estarmos a fazer uma travessia tecnológica, em muitos aspetos análoga à travessia marítima europeia dos séculos XV e XVI (Martins, 2015a(Martins, , 2017(Martins, , 2018a(Martins, , 2018b. Coloco, pois, em confronto a natureza tecnológica da atual globalização financeira e a natureza comercial da expansão marítima europeia. E se da primeira travessia resultou a colonização de povos e nações, com a segunda travessia passámos, em século e meio, àquilo a que Edgar Morin chamou a "colonização do espírito" de toda a comunidade humana (Morin, 1962). Neste contexto, tomei em consideração as consequências, para a cultura, da aceleração da época pela tecnociência, que tem mobilizado o humano, "total" (Jünger, 1930) e "infinitamente" (Sloterdijk, 2010), para as urgências do presente (Martins, 2010). Por outro lado, vou situar nos estudos pós-coloniais as identidades transnacionais e transculturais, analisando as comunidades lusófonas no contexto da "batalha das línguas", para utilizar uma expressão do linguista moçambicano, Armando Jorge Lopes (2004). Por essa razão, vou considerar a "circum--navegação tecnológica" (Martins, 2015a(Martins, , 2017(Martins, , 2018a(Martins, , 2018b, a empreender por todos os países do espaço lusófono, como um combate pela ordenação simbólica do mundo (Bourdieu, 1977(Bourdieu, , 1979(Bourdieu, , 1982, onde se colocam os problemas de língua hegemónica e de subordinação política, científica, cultural e artística (Martins, 2015b). Trata-se, pois, de uma travessia eletrónica, utilizando sites, portais, redes sociais, repositórios e arquivos digitais, e ainda, museus virtuais. E o ponto de vista adotado é o de que uma grande língua de culturas e de pensamento, como é a língua portuguesa, não pode deixar de ser, igualmente, uma grande língua de conhecimento, humano e científico.
Palavras-chavePós-colonialismo; lusofonia; língua portuguesa; identidades transculturais e transnacionais; circum-navegação tecnológica
Portuguese-speaking countries and the challenge of a technological circumnavigation AbstractIn this article, I propose the assumption that we are making a technological journey, analogous in many respects to European ocean voyages of the 15 th and 16 th centuries (Martins, 2015a(Martins, , 2017(Martins, , 2018a(Martins, , 2018b. Thus, I confront the technological nature of the current financial globalization and the commercial nature of European maritime expansion. Whereas the first journey resulted in the colonization of peoples and nations, in the second journey we moved, in a century and a half, to that which Edgar Morin called the "colonization of the spirit" of the entire human community (Morin, 1962). Within this context, I took into consideration the consequences, for culture, of the acceleration of the time via technology, which has mobilized human beings, "totally" (Jünger, 1930) and "infinitely" (Sloterdijk, 2010), in view of the urgencies of the present (Martins, 2010). On the other hand, I will use post-colonial studies to situate transn...