A políticA estAdunidense de desgermAnizAção do sistemA de trAnsporte Aéreo brAsileiro [...] revistA brAsileirA de políticA internAcionAl 111 de pressão, aparato organizado e apoio bem concertado de suas embaixadas e de agentes especiais ligados a vários órgãos do Estado.A empresa de transporte aéreo Condor, embora obedecesse à legislação brasileira, era subsidiária da Lufthansa e estava equipada com aeronaves alemãs. Nesse artigo, será examinada e avaliada a atuação conjunta do Estado e do capital privado norte-americanos no sentido de forçar o governo Vargas a nacionalizar a Condor e substituir seu equipamento, funcionários e acionistas por outros 'confiáveis', cedendo lugar a indústrias aeronáuticas dos Estados Unidos e eventualmente a empresas aéreas desse país. Apesar das tentativas do governo brasileiro de confrontar a pressão e proteger os trabalhadores alemães e naturalizados, a pressão favoreceu o projeto político e comercial estadunidense, iniciando a prolongada consolidação dos laços econômicos entre os dois países. Nesse processo, o discurso ideológico, que destacava a superioridade tecnológica dos artefatos aeronáuticos norte-americanos e a necessidade de reforçar a solidariedade entre os países aliados, desempenhou um papel da maior importância.
Os alemães no transporte aéreo sul-americanoA presença de imigrantes germânicos já era conspícua, na América do Sul antes do início da Segunda Guerra. Aos poucos, eles haviam fincado raízes e prosperado, e alguns se tornaram parte das elites socioeconômicas e políticas, o que teve ressonâncias inesperadas quando passaram a ser vistos pelo Departamento de Estado como uma espécie de quinta coluna a ser neutralizada. Geralmente organizados em colônias, evidenciavam forte coesão social e mantinham laços com sua terra natal, sua identidade e cultura. O caminho do comércio, trilhado por muitos deles, complementava a atividade agrícola na qual se ocupava a maioria. Essas comunidades foram a plataforma para que bem treinados representantes comerciais, peritos na detecção de necessidades e preferências de potenciais consumidores, introduzissem hábitos de consumo, práticas contábeis e produtos alemães, e contribuíssem para disseminar uma confiança quase inabalável na qualidade dessa indústria. O papel do agente comercial foi estratégico na adaptação da produção às idiossincrasias locais e na conquista, ao longo dos anos 30, de fatia importante dos mercados sul-americanos. Em suas tentativas de penetração, o capital estadunidense teve de levar em conta esse fator.As máquinas e os sistemas aeronáuticos germânicos estavam entre os mais avançados quando foram adquiridos por algumas das primeiras linhas aéreas comerciais sul-americanas. Dado o elevado custo desses artefatos e o conhecimento que sua operacionalização exigia, feito o primeiro investimento em sua aquisição, o cliente tendia a solicitar treinamento, peças e inovações tecnológicas da mesma fonte. Os alemães usavam o sistema de pool, e, com ele, "ganharam o controle sobre as linhas aéreas domésticas", garanti...