A História da Ciência no PNLD 2018: o Princípio de Arquimedes como estudo de caso

Abstract

Este artigo discorre sobre o conteúdo “Princípio de Arquimedes” nos livros didáticos de Física do PNLD 2018. Investiga-se, dentre outros aspectos históricos, a presença do episódio envolvendo Arquimedes (287 a.C. – 212 a.C.) e o problema da coroa do rei de Siracusa, recorrentemente propagado, sob um viés empirista-indutivista, como a “descoberta do empuxo”. A proposta desenvolvida se descortina a partir de uma peculiaridade. Trabalhos acadêmicos em periódicos nacionais da área de Ensino de Física, nas últimas décadas, chamaram a atenção para aspectos histórico-filosóficos relacionados ao Princípio de Arquimedes. Pode-se questionar se essas discussões vêm tendo algum impacto nos livros didáticos. A análise crítica minuciosa mostra que ainda é frequente a presença da pseudo-história empirista-indutivista, bem como a apresentação historicamente descontextualizada do Princípio de Arquimedes. São também notáveis, nos livros analisados, repercussões dos questionamentos dos especialistas da área de Ensino de Física contra a narrativa mítica do episódio citado. Por vezes, notam-se nesses livros referências explícitas aos trabalhos acadêmicos, mas a repercussão em iniciativas direcionadas ao professor e ao aluno é ainda embrionária. Por outro lado, dentre os doze livros didáticos analisados, há dois exemplos de transposição robusta da História da Ciência para o contexto do ensino médio, explicitamente apoiados em trabalhos acadêmicos. Esses resultados apontam uma direção promissora.

Contribuições ao Ensino do Princípio de Arquimedes: aspectos físicos conceituais e de natureza histórico-filosófica

“…Particularmente no caso do princípio de Arquimedes, objeto de discussão no presente trabalho, uma análise crítica minuciosa recente demonstrou que em livros didáticos de física ainda é frequente a presença da pseudo-história empiristaindutivista, a famosa "Eureka!" de Arquimedes [9].…”

“…No caso específico do princípio de Arquimedes, a pesquisa citada anteriormente identificou em livros didáticos forte incidência de uma apresentação historicamente descontextualizada [9]. Essa lacuna pode transmitir a impressão anacrônica de que o enunciado atual do princípio foi escrito por Arquimedes, contemplando componentes de entidades vetoriais e os conceitos atuais de empuxo e de fluido.…”

Uma Análise Conceitual Do Princípio De Arquimedes Nos Livros Didáticos De Ciências Da Natureza Do Ensino Médio

“…É também muito feliz os autores considerarem os instrumentos de medidas de modo diacrônico, afirmando a impossibilidade de haver o grau de precisão necessário para Arquimedes medir os volumes que o relato de Vitruvius requereria. [...] o exemplar realiza uma transposição compreensível e bastante adequada do episodio histórico para o contexto didático (Hidalgo;Queiróz;Oliveira, 2021Oliveira, , p. 1267Oliveira, -1268.…”

Uma Proposta De Abordagem Do Princípio De Arquimedes a Partir Da Investigação Do Episódio Da Coroa

“…É motivo de preocupação constatar que nenhuma das sete obras aprovadas no PNLD 2021 traz uma abordagem histórica robusta sobre o Princípio de Arquimedes que, por exemplo, faça uso desses elementos (Santos Júnior, 2023). Esse panorama representa um retrocesso em relação ao que foi observado no PNLD 2018, já que duas obras selecionadas naquele edital do programa (Barreto Filho;Silva, 2016;Torres et al, 2016) haviam realizado abordagens histórico-filosóficas desse conteúdo físico, discutindo a Balança Hidrostática como alternativa ao método descrito por Vitruvius Oliveira, 2021).…”

“…Outro aspecto relevante diz respeito a não ser contemplada nessas obras didáticas a existência de um limite de validade para o Princípio de Arquimedes Oliveira, 2021;Santos Júnior, 2023) coleções aprovadas nos editais do PNLD 2018 e 2021, somente uma faz alguma referência ao limite de validade desse princípio e, mesmo assim de forma restrita, nas orientações aos docentes. Adotando uma postura instrumentalista, a coleção indica: "fica a critério do professor fazer ou não esse comentário em sala.…”