A Gestão Ordinária e suas práticas: o caso da Cafeteria Will Coffee

Abstract

O presente artigo tem por objetivo contribuir para o entendimento do conceito de gestão ordinária (Carrieri, Perdigão & Aguiar, 2014), por meio do estudo de uma pequena organização familiar, a Cafeteria Will Coffee. A gestão ordinária não é apresentada como um ‘modelo’ alternativo de gestão, tão pouco como um método formal de pesquisa, mas como uma crítica aos modelos e postulados gerenciais dominantes, que buscam simplificar a realidade complexa do ambiente sócio-organizacional. Ao tomar como caso de estudo uma cafeteria aberta em um bairro operário de Contagem (MG), cujas peculiaridades tornaram sua história pública, noticiada em diversos veículos da mídia jornalística e especializada, busca-se evidenciar e ressaltar aspectos rotineiramente silenciados, desprezados, ou apagados das complexas narrativas que não cabem nos modelos habituais, como a espontaneidade, o não planejamento e a improvisação. Conclui-se que a gestão ordinária colabora com a área de Estudos Organizacionais ao possibilitar a recuperação de outras experiências de gestão, dando voz aos ‘sujeitos’ comuns e se interessando por suas histórias, discursos, e práticas, recuperando o direito de eles serem vistos como gestores e produtores de conhecimento.

Innovation management as a practice: Contributions of the concept of ordinary management

“…Desde o início do século XXI, em razão da gestão ordinária desconstruir os pressupostos dos modelos do mainstream management (Martins, 2008;Carrieri et al, 2014;Carrieri et al, 2018;Gouvêa et al, 2018) novo olhar para entender a organização, ora tratada como um processo em constante modificação, que depende da interação dos indivíduos com o ambiente organizacional.…”

“…Tomando por base essa colocação, o estudo das práticas cotidianas está voltado à rotina das pessoas que não ocupam cargos elevados, centrando-se nas ações organizativas de suas atividades, bem como nas estratégias e nas táticas de sobrevivência que interferem no fazer cotidiano organizacional (Certeau, 1998;Carrieri et al, 2018).…”

“…Alicerçado no exemplo supracitado, é plausível dizer que a gestão ordinária se encaixa nos estudos de pequenas organizações, tendo em vista que ela não se molda por um modelo predeterminado de gestão, que visa objetivos organizacionais, mas dá luz a uma nova forma de perceber e de reconhecer outros tipos de gerenciamento, pautados na criatividade e no uso da intuição dos sujeitos comuns, originando, com isso, outro modo de interpretar os diferentes discursos dispersos, contidos principalmente no cotidiano dos pequenos negócios (Carrieri et al, 2018).…”

“…Certeau (1998) esclarece, ainda, que o processo produtivo é desenvolvido no cotidiano, sendo nele introduzidos os diferentes modos de fazer e de saber dos indivíduos, uma vez que ele incorpora o modo de conviver e de atuar característico de cada organização. As práticas cotidianas dão potencial para que as pessoas levem adiante seus negócios, por meio da criatividade e da inovação, desenvolvidas pelas experiências e práticas compartilhadas pelos indivíduos no dia a dia do trabalho realizado, sem que haja, em muitos casos, qualquer preparação técnica de management (Carrieri et al, 2018).…”

“…Em contrapartida, quando se contextualiza o trabalho da inovação, é possível verificar que a padronização pode não ser compatível com a diversidade de sujeitos, o contexto e as histórias deles decorrentes (Carrieri et al, 2018), sendo admissível não apenas analisar novos objetos, mas lançar também novos olhares sobre o que está sendo estudado no cotidiano (Certeau, 1998).…”