Introduc ßãoOs dados do INAF 2011 (Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional) apontam que no contexto universit ario, 62% dos alunos têm n ıvel pleno de alfabetizac ßão, 34% n ıvel b asico e 4% n ıvel rudimentar. Ou seja, temos 38% de estudantes universit arios que não dominam plenamente a leitura e a escrita. Nesse sentido, por pr aticas medicalizadoras da sa ude, os alunos com hist orico de prec ario acesso a cultura escrita muitas vezes são patologizados e diagnosticados com transtornos funcionais como TDAH, Dislexia, Dist urbio de Processamento Auditivo Central, dentre outros (Massi e Santana, 2011).Para Meira (2012), a medicalizac ßão e um desdobramento do processo de patologizac ßão dos problemas educacionais que justifica a manutenc ßão da exclusão de grande parte das crianc ßas pobres. Ou seja, a escola não cumpre sua func ßão social e produz patologias para serem tratadas nos servic ßos de sa ude. Isso decorre devido ao impedimento de acesso das crianc ßas pobres aos bens culturais e e consequência de um processo de reproduc ßão das desigualdades sociais.O processo de medicalizac ßao: da educac ßão para a cl ınica Os dados abaixo foram coletados a partir de um estudo de caso de uma aluna do curso de Pedagogia de uma Universidade Federal do Brasil. A aluna, de nome fict ıcio, Lara, tem 44 anos e e de classe social baixa. A mãe estudou at e a quarta s erie e o pai era anafalbeto. Aos 9 anos de idade Lara empregou-se na casa de pessoas, e aos 12 anos ganhou seu primeiro livro, a B ıblia. Ao concluir a s etima s erie Lara parou de estudar. S o retornou aos estudos com 20 anos, quando fez um supletivo em um Col egio particular. S o aos 40 anos ela entrou na universidade. Logo que entrou como ela tinha queixas de leitura e escrita e de que não entendia muito bem o que o professor falava em sala de aula, Lara foi encaminhada tamb em para a avaliac ßão fonoaudiol ogica e avaliac ßão de Processamento Auditivo Central. O resultado foi o diagn ostico: Dist urbio do Processamento Auditivo Central.Lara: Mas tamb em eu sou bem franca, quando eu entrei na Universidade, eu cheguei e falei pra todo mundo que tava dentro da sala: escrevo errado, falo errado e e a realidade do povo brasileiro. Entendeu? A concepc ßão da Universidade e que e errada de abrir cotas pra novos povos, pra novas culturas e simplesmente não dar apoio pra eles. Se abriram todo esse espac ßo, no meu ponto de vista, cê tem que dar suporte. Não e tipo quando deram libertac ßão pros negros no Brasil. Tão todo mundo liberto, vão viver do quê? A mesma coisa a Universidade faz.A produc ßão escrita de Lara caracteriza-se como um processo de apropriac ßão da escrita. "Erros" que são decorrentes do apoio na oralidade e de representac ßões m ultiplas: roza por rosa; principi por pr ıncipe, viaji por viagem (Massi e Santana, 2011). Ela apresenta uma leitura com velocidade lenta, com trocas de algumas palavras e dificuldades de interpretac ßão. Ou seja, ela passou por um processo de alfabetizac ßão prec ario.. O caso de Lara não e o unico. Alunos como ela nã...