A importância da leitura no processo de escolarização parece evidente a ponto de não constituir objeto de questionamento. Por outro lado, é preciso marcar a ausência de consenso quanto ao que seja/signifique leitura. Diferentes concepções retomam e remetem a teorizações que abrangem da decodificação à negociação de sentidos. A última é assumida neste trabalho que, visando à leitura como exercício crítico, está centrado na integração teoria-prática, conteúdo-forma, leitura-produção textual, assim como na articulação do contexto histórico mais amplo à prática pedagógica desenvolvida na escola básica e das propostas curriculares a princípios de ação que possam aperfeiçoar situações concretas de ensino. Considerando que a prática pedagógica implica a produção de sentidos, na qual produtos se repõem continuamente como processos, a leitura crítica abrange múltiplas perspectivas, determinadas principalmente pelo corte de classe social, mas também pelas posições relativas que os sujeitos ocupam em "condições de produção" específicas. Na medida em que a produção de sentidos constitui as práticas de linguagem, duas tendências diversas, mas igualmente discutíveis, se delineiam: (1) a tomada destas práticas pela educação como um todo ou, até mesmo, pela "realidade"; e (2) a institucionalização de práticas discursivas rígidas e limitadoras. Como a linguagem está sempre atada ao poder, o discurso, instância histórica da primeira, não tem apenas implicações culturais, mas principalmente políticas: é socialmente regulado de forma a garantir a produção e a circularidade de efeitos dos sentidos hegemônicos. A Análise de Discurso (AD) constitui instrumental teórico-metodológico para a desconstrução deste processo ideológico, trabalhando pistas linguísticas que remetem aos modos pelos quais o funcionamento discursivo pode ser regulado. Ao fazê-lo, também aponta para modos de produção de sentidos diversos e para o confronto de perspectivas. Em síntese, a AD pode subsidiar a produção de um conjunto de princípios que orientem o ensino da língua, no qual a leitura crítica ocupa lugar central. É sobre esses princípios que a tese está estruturada, nos seus quatro capítulos: (1) análise da construção do objeto; (2) caracterização da palavra consentida; (3) articulação do discurso crítico; e (4) o discurso como fundamento-ação.