A clínica psicológica em uma inspiração fenomenológica – hermenêutica

Abstract

RESUMO Na tentativa de apresentar uma proposta de psicologia clínica diferente dos modelos de psicoterapia que se pautam nas ciências naturais, serão apresentados argumentos em defesa de uma perspectiva clínica em psicologia com base na fenomenologia hermenêutica tal como desenvolvida por Martin Heidegger. Para tanto, serão consideradas: 1-a indissociabilidade e não a dicotomia homem e mundo; 2-o caráter epocal em que a existência se dá em oposição ao caráter ahistórico da constituição do homem. 3-a técnica não mais como um meio para atingir um fim, mas como horizonte histórico de determinação das crises existenciais. Por fim, mostrará que a clínica que tem como base a existência consiste apenas em uma tentativa de pensar a psicologia como um espaço de tematização das questões trazidas pelo analisando, para quem as transformações existenciais apontam como possibilidades e não como necessidades. Palavras-chave: Fenomenologia-hermenêutica; Heidegger; existência; psicologia clínica.

Um olhar sobre a saúde humana

“…A vivência intencional, sendo algo ontológico nos modos-de-ser de cada indivíduo, articula a existência a partir da nadidade estrutural. Assim, cada sujeito se constituirá pela relação, sendo sempre intencional, com o horizonte histórico no qual está inserido, recebendo do mundo a possibilidade de ser e constituindo uma unidade cooriginária, ou seja, uma inseparabilidade entre homem e mundo (Feijoo, 2012;Casanova, 2018). Por essa razão, procura-se, a partir desse método, uma compreensão mais ampla que envolva o horizonte histórico, os significados atribuídos às coisas que estão no mundo, os sentidos que articulam esses significados bem como a forma com que isso estrutura a vivência de cada sujeito.…”

“…A questão mais essencial para nós é que fugindo da decisão a ser tomada, a paciente é perseguida pela questão em si; fugindo, ela se vê uma vez mais confrontada com o seu si mesmo, com a indeterminação do correto a se fazer, com seu caráter aberto de poder-ser (Casanova, 2018). A necessidade da tutela familiar se articula pela clara relação de C. com o indeterminado, o incontrolável, e a cada vez que o sujeito humano se depara com esse contexto ele tende, de início e na maioria das vezes, ao retorno na tutela do impessoal (Feijoo, 2012). A tonalidade afetiva da angústia se desvelando pelo ser-para-a-morte possibilita a articulação de uma performance única, pessoal e intransferível, uma decisão acertada, postura que apenas pode se dar no âmbito individual.…”

“…Busca-se aqui um posicionamento hermenêutico, uma postura crítica contra qualquer "pretensão de totalização do saber" (Sá, 2017, p. 17). A técnica, por sua vez, por meio de seus métodos lógicos, busca o estabelecimento de certezas em detrimento das constâncias, das funcionalidades (Feijoo, 2012), procura alcançar a constância da vida independente do significado que esta possui para o sujeito da vivência.…”

“…Ao abrirmos, dentro do espaço terapêutico, o diálogo sobre a morte e as possibilidades ainda existentes, estamos abrindo caminhos para a paciente, pois "apenas questionando algo é que podemos nos preparar para uma relação mais livre com aquilo que pode nos aprisionar." (Feijoo, 2012).…”

“…A angústia desvelada pela possibilidade da morte, pela fragilidade da existência, revela a possibilidade do cuidar como sendo a responsabilidade pelo seu poder-ser mais próprio e autêntico (Casanova, 2018). Essa tonalidade afetiva fundamental abre a possibilidade de libertação para C, retirando-a do lugar de absorção e sedimentação, retirando-a do lugar em que o ser jamais pode ser, algo determinado previamente pelas determinações quais forem (Sá, 2017;Feijoo, 2012).…”