A cadeia imperialista das relações interestatais: a teoria do imperialismo de Nicos Poulantzas

Abstract

Resumo:Este artigo trata de teoria do imperialismo de Nicos Poulantzas contida em duas de suas principais obras: As classes sociais no capitalismo hoje e A crise das ditaduras: Grécia, Espanha e Portugal. Os trabalhos de Poulantzas são mais conhecidos pelas teses sobre o Estado capitalista, o bloco no poder e as classes e frações de classes sociais. Entretanto, é possível verificar que o autor construiu uma rica teoria que aborda as relações internacionais de forma complexa e baseada na luta de classes e que sua contribuição para o campo das Relações Internacionais, apesar de ser atualmente tímida, comporta enorme potencial. Palavras-chave: Nicos Poulantzas. Imperialismo. Metrópoles imperialistas. Formações sociais dominadas e dependentes. Estado burguês. Bloco no poder. Frações burguesas. INTRODUÇÃO O texto a seguir é uma explanação sobre a teoria do imperialismo contida nos estudos de Nicos Poulantzas. O autor publicou em um intervalo de dez anos suas principais obras, revigorando e fortalecendo a teoria política marxista: Poder político e classes sociais em 1968, Fascismo e ditadura em 1970, As classes sociais no capitalismo hoje em 1974, A crise das ditaduras: Grécia, Espanha e Portugal em 1975 e O Estado, o poder, o socialismo em 1978. Neste texto extraímos a teoria do imperialismo de suas obras que abordam o tema, As classes sociais no capitalismo hoje, em que o autor em meio a uma série de teses e conceitos apresenta sua teoria do imperialismo, e A crise das ditaduras: Grécia, Espanha e Portugal, em que a operacionaliza, analisando a derrocada dos regimes ditatoriais nestes países 2 . A construção da teoria do imperialismo de Poulantzas (1978) se inicia com a retomada de outras teorias sobre as relações internacionais entre Estados e burguesias no capitalismo do século XX, às quais defere uma série de críticas. Em primeiro lugar, Poulantzas critica um conjunto de autores, entre eles Paul Sweezy e Harry Magdoff, 1 Professor do curso de Relações Internacionais da UNISANTOS. Pesquisador do Centro de Estudos Marxistas (CEMARX) da UNICAMP. Doutorando no programa de pós-graduação em Ciência Política na UNICAMP. E-mail: bugiato@live.com 2 Alguns autores sustentam que existe uma periodização no pensamento de Poulantzas, pois ele teria passado da filiação ao pensamento do filósofo marxista Louis Althusser, pensamento presente em Poder Político e classes sociais, para o campo do socialismo-democrático, retificando alguns pressupostos teóricos ao longo de sua trajetória intelectual, concentrados em O Estado, o poder, o socialismo. Sobre tal periodização, ver CODATO, 2008.

Escola Viva

“…As classes sociais são aqui vistas como um conjunto de agentes sociais condicionados pelas ações políticas que tomam, pela sua posição ideológica e, principalmente, pelo lugar que ocupam no processo de produção. Portanto, a luta de classes é o enfrentamento entre classes sociais com interesses contrários pela prevalência de seus interesses, sendo a burguesia e o proletariado as duas classes fundamentais nesse processo (BUGIATO, 2014).…”

“…Nesse contexto, existe um núcleo hegemônico composto por uma ou mais frações de classe dominante, que conquistam a hegemonia no interior do bloco no poder e têm a capacidade de fazer prevalecer seus interesses particulares no bloco. Assim, a fração hegemônica não só lidera a unidade política do Estado burguês, como também orienta as ações estatais promovendo a constituição e o (re) posicionamento das demais frações de classe no interior do bloco (BUGIATO, 2014).…”

A expansão chinesa recente e novas determinações do imperialismo no século XXI

“…Segundo Bugiato (2014) neste autor encontra-se a reafirmação da tese leninista que vê o imperialismo como expressão das contradições capitalistas em determinado contexto histórico. No entanto, em Poulantzas amplia-se de certa forma a dimensão política do conceito, que ganha maiores fundamentações inclusive por resultar da tentativa de formulação de uma teoria do Estado bastante ampla.…”

“…Dessa conceituação em torno do Estado deriva o conceito importante de bloco no poder, que elucida a relação complexa entre Estado e frações de classe e como estas moldarão em sentidos diversos a ação do Estado, mediante disputas e posições hierárquicas em determinados contextos históricos, não apenas internamente mas nas relações externas. (BUGIATO, 2014;POULANTZAS, 1978).…”

A política de financiamento do BNDES e a burguesia brasileira

“…Assim Poulantzas denomina estas de relações de reprodução induzida e interiorizada do capitalismo, que se estende às relações de produção, aos aparelhos de Estado e ao âmbito da ideologia. Deste modo, podemos dizer que para Poulantzas existe um sistema internacional de Estados burgueses divididos em Estados imperialistas (metrópoles) e Estados dependentes (FSDD), em que o imperialismo é a relação (o capital é antes de tudo uma relação social, como demonstra Marx n' O Capital ) que se dá muitas vezes (mas nem sempre) entre eles,119 Para uma explicação mais detalhada da reprodução induzida e interiorizada, verBUGIATO, 2014. metrópolesDaí decorre um conhecimento pouco profundo tanto conceitual quanto empírico (da política externa brasileira), visto que poucos pesquisadores se dedicam a entender e aplicar a APE. A maioria dos estudos produzidos na área se concentra em um objeto comum: a relação entre o Executivo e o Legislativo em assuntos de política externa, com ênfase no papel deste último.…”