2010
DOI: 10.7213/ren.v1i1.22563
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A autossupressão como catástrofe da consciência moral

Abstract: Este artigo pretende dar um tratamento conceitual à noção de autossupressão da moral no interior da filosofia de Nietzsche. Com esse propósito, tenta-se examinar o status teórico da autossupressão, sua função no pensamento de Nietzsche, por meio da análise dos processos de autossupressão da vontade de verdade, autossupressão da moralidade e autossupressão da justiça. Conclui-se que o conceito de autossupressão pode prover uma sólida base para uma interpretação de conjunto da filosofia da cultura de Nietzsche.

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“…A virada ao avesso do ressentimento é, em parte, a autossupressão do mesmo. E esta opera-se em uma intrincada articulação com a autossupressão da vontade incondicional de verdade (Giacoia Jr., 2010): admitido o vínculo entre moral religiosa e moralidade científica, o condicionamento desta pela fé inabalável daquela em um incondicional, que erige a verdade como valor absoluto, o ateísta a historicizar a si mesmo é obrigado, em função da sua insuperável devoção à veracidade, do seu dever a ela, a fazer a experiência do seu parentesco com o ideal ascético da moral religiosa, vindo assim a atinar que a moral ocidental é, ao fim e ao cabo, tirania e violência em proveito da sua conservação e em detrimento de perspectivas outras: ao delimitar o bem e o mal de modo a operar o alterocídio das diferenças ao objetificá-las como mal, a moral demonstra-se defensora de imoralidades muitas como o regime escravocrata, o genocídio das populações indígenas e africanas, a exploração massiva do proletariado, etc. Paradoxalmente, assim, em Nietzsche, a ética advém do exercício de ser amoral: para além do bem e do mal.…”
Section: O Que Aparece Quando Eu Escrevo E Desapareço?unclassified
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“…A virada ao avesso do ressentimento é, em parte, a autossupressão do mesmo. E esta opera-se em uma intrincada articulação com a autossupressão da vontade incondicional de verdade (Giacoia Jr., 2010): admitido o vínculo entre moral religiosa e moralidade científica, o condicionamento desta pela fé inabalável daquela em um incondicional, que erige a verdade como valor absoluto, o ateísta a historicizar a si mesmo é obrigado, em função da sua insuperável devoção à veracidade, do seu dever a ela, a fazer a experiência do seu parentesco com o ideal ascético da moral religiosa, vindo assim a atinar que a moral ocidental é, ao fim e ao cabo, tirania e violência em proveito da sua conservação e em detrimento de perspectivas outras: ao delimitar o bem e o mal de modo a operar o alterocídio das diferenças ao objetificá-las como mal, a moral demonstra-se defensora de imoralidades muitas como o regime escravocrata, o genocídio das populações indígenas e africanas, a exploração massiva do proletariado, etc. Paradoxalmente, assim, em Nietzsche, a ética advém do exercício de ser amoral: para além do bem e do mal.…”
Section: O Que Aparece Quando Eu Escrevo E Desapareço?unclassified
“…Nesse instante denso, o desaparecimento que nos alcança é completamente distinto do apagamento operado pela lógica alterocida: no apagamento temos a consciência hipertrofiada de memória e promessa a impedir toda e qualquer diferença, ao passo que no esquecimento nos perdemos do eu e do nós em uma vertigem sem fim. A modernidade-colonialidade instaura a objetificação ao hierarquizar os seres, enquanto a autossupressão, por meio da autoproblematização, opera uma inversão do sujeito em objeto, e a violenta vivissecção da alma, depois de ter soçobrado a moral que era seu fundamento, é experienciada como perda do território, como desterritorialização (Giacoia Jr., 2010). No processo de desterritorialização moderno-colonial há destruição das referências de todos que são definidos, desde essa perspectiva, por sua nãoeuropeidade, reterritorializando-os na plataforma da hierarquia ontológica que outorga ao homem branco hétero cis e proprietário o lugar de destaque, o ápice de uma cadeia predatória objetificadora dos "outros".…”
Section: Considerações Finais: E Qual Desaparecimento Queremos?unclassified
“…Seria de se esperar, de acordo com a vigente perspectiva ressentido-decadente, algo que apazigue, acalme, amorteça; ora, verifica-se uma feliz coerência quando se vê Nietzsche esclarecer que se trata exatamente do contrário: alívio para ele é "como se todas as funções animais fossem aceleradas [destaque acrescentado] por ritmos leves, ousados, exuberantes, seguros de si; como se a brônzea, plúmbea vida fosse dourada por boas, ternas, áureas harmonias." (NIETZSCHE, 2001, p. 270) (cf. "Ecce homo", Por que sou tão inteligente, § 7…”
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“…Uma filologia que corresponde à filologia de Nietzsche é uma filologia sem seguranças (...) É sua 'necessidade' [dos intérpretes de Nietzsche -JPSVB] ter que se fixar pelo menos provisoriamente em suas interpretações e, nesse aspecto, tais intérpretes já procedem antifilologicamente no sentido de Nietzsche. 36 É nesse sentido que também se torna possível compreender a denúncia feita por Stegmaier contra o velho e repetido dogma da ambivalência e da contradição na filosofia de Nietzsche como um recurso largamente empregado por intérpretes ainda desejosos de encontrar uma verdade, uma segurança, um ponto fixo nos textos do filósofo alemão.…”
Section: A Interpretação Contextualunclassified
“…Mas é difícil ter que suportar filosoficamente essa fluidez de sentido e, com ela, a realidade do uso de linguagem no geral; é na força para suportá-la que se mostra a força de uma filologia para a filosofia de Nietzsche. 37 Diante da importância deste panorama de instabilidade semântica, caberia aqui perguntar se, uma vez que o pensador alemão deixa claro que toda finalidade, utilidade e função não seriam nada mais que o resultado de uma apropriação, de uma atividade deliberada de sujeição e de transformação; e ainda, uma vez que ele próprio estruturou e expôs suas principais teses de modo a selecionar seu público de leitores, oferecendo a seus amigos -isto é, a todos aqueles que "não têm necessidade de artigos de fé extremos.…”
Section: A Interpretação Contextualunclassified