Invertendo o enfoque das “crises migratórias” para as “migrações de crise”: uma revisão conceitual no campo das migrações

Abstract

O presente artigo se propõe a debater um novo conceito no campo de estudos migratórios – as migrações de crise –, o qual traz à luz os processos, motivos e fatores vivenciados por populações afetadas por crises e que podem contribuir para processos migratórios de indivíduos, famílias e comunidades como um todo. Introduzindo diversas categorias correlatas – como a eventualidade, a imobilidade (ou enclausuramento) e a não escolha –, adota-se um direcionamento metodológico e conceitual que aponta para as crises como propulsoras das migrações. Dessa maneira, busca-se tensionar a ideia de que as migrações geram crises aos Estados-nação receptores de movimentos significativos de pessoas – a qual notavelmente se consolida peladisseminação do termo “crise migratória”, em especial, nos discursos políticos e midiáticos correntes. A delimitação do novo conceito proposto e da sua metodologia de estudo pautou-se pela revisão bibliográfica da literatura especializada na área, com foco em pesquisas recentes sobre as migrações de crise e suas implicações tanto na esfera local como na internacional. Ao final do texto, levantamos os desafios e as contribuições de tal conceito, envolvendo debates centrais no campo das migrações, inobstante questões teórico-metodológicas ainda não suficientemente superadas dentro deste.

(I)mobilidade Humana e Migrações de Crise: enquadramento teórico para o confinamento forçado de pessoas a partir da problemática colombiana | Human (im)mobility and crisis migration: theoretical framework for the problematic of people’s forced confinement in Colombia

“…Julia Moreira e Janine Borba (2021) analisam que o termo "crise migratória" reflete uma ideia, que tem alimentado discursos políticos e midiáticos, de que as migrações impõem problemas aos países receptores de tais movimentações de pessoas. Por meio dele, há tanto um processo de culpabilização da pessoa migrante -que passa a ser vista como uma ameaça ao bem-estar social, à identidade nacional, e, logo, como um inimigo em potencial (Aguiar, 2019;Bauman, 2017) -quanto de esvaziamento da razão pela qual as pessoas se veem compelidas a migrar (Moreira;Borba, 2021). Como resultado, são produzidos mecanismos de contenção da mobilidade humana a fim de se evitar, ou dificultar que as pessoas migrem, mantendo-as em seus locais de origem, isto é, dentro de seu respectivo território nacional, ou em espaços de trânsito (Black;Collyer, 2014).…”