[resumo] O artigo reflete sobre as distintas potências ativadas pelo uso das roupas, desde as memórias que vão se aglutinando nas peças até os dispositivos de esquecimento presentes em trajes que provocam a mimese com a paisagem. As roupas são abordadas a partir de vivências pessoais e leituras teóricas com uma metodologia que relaciona vozes dissonantes e não hierarquiza as fontes de pesquisa. Por meio de exemplos da moda, da arte e da literatura, desenvolve-se uma narrativa que explora a relação do usuário com o seu traje.[palavras-chave] roupa; moda; memória; mimese; esquecimento.[abstract] The article reflects on the different powers activated by the use of the clothes, from the memories that are agglutinating in the pieces, to the devices of forgetfulness present in costumes that provoke the mimesis with the landscape. The clothes are approached from personal experiences and theoretical readings, using a methodology that relates dissonant voices and does not hierarchize the sources of research. Through examples of fashion, art and literature, a narrative is developed that explores the user's relationship with his or her costume.[keywords] clothing; fashion; memory; mimesis; forgetfulness.[ 124 ] Somos apegados aos nossos objetos quase do mesmo modo que ao nosso corpo e a fascinação que as roupas exercem está diretamente associada a essa relação. Os trajes nos acompanham por onde quer que vamos. Estão sempre conosco para manter nossa sociabilidade possível em um mundo condicionado por regras de conduta. Para pensar as roupas, misturam-se vivências pessoais e leituras teóricas com uma metodologia que soma vozes dissonantes e não hierarquiza as fontes de pesquisa. Fazendo um exercício de escrita, baseado nos textos de Mesquita (2008) e Preciosa (2002;2005), busco usar suas forças para impulsionar uma redação que se desenvolve no campo experimental da composição. O artigo materializa os encontros vestíveis que causam ressonância tanto no corpo de quem veste quanto nos espaços que habitam, consentindo com a ideia de que as roupas articulam uma presença irreversível em nossos modos de vida.
Roupa memorialAs roupas estão impregnadas de memória, as roupas são memórias (STALLYBRAS, 2008). Enquanto escrevo, reflito sobre as peças que estão ao meu redor. Estão preenchidas de corpos que as modelam e as tornam vivas. Estar na biblioteca é estar vestida. Como todas essas peças chegaram até aqui? Que percurso traçaram? Em quantos porões de aviões estiveram? O vestido que uso, na quente tarde portuguesa, chegou também na mala. E se o chemise que hoje tenho em mim serve para usar em um dia qualquer de biblioteca no verão, e corre o risco de não mais voltar para o Brasil, posso contar todo o seu caminho. Comprei em Teresópolis, lugar que ia habitualmente para fugir das altas temperaturas no Rio de Janeiro e ter mais foco para estudar, com a finalidade de usar no almoço de comemoração do aniversário de 60 anos do meu pai. Usei-o majoritariamente para dar aulas, tanto que seu jeans claro alvejado se tornou branco amarelado. Fo...