ResumoPartindo do amplo debate no contexto das políticas de inclusão educacional e situando nosso interesse investigativo em torno dos diferentes fatores que podem explicar o persistente desencontro entre as políticas inclusivas e a realidade do chão dos espaços educacionais, buscamos abordar, nesta pesquisa, a especificidade do eixo que abrange o desenvolvimento de métodos, técnicas pedagógicas e materiais didáticos em uma perspectiva de inclusão. Nesse sentido, no presente artigo, apresentamos os resultados de uma investigação desenvolvida em um curso de extensão de língua francesa para alunos deficientes visuais no Instituto dos Cegos de Campina Grande, Paraíba. Nosso objetivo é analisar o processo de adaptação e elaboração de material didático, compreendendo sua relação com os processos compensatórios do público-alvo. Para tanto, mobilizamos elementos teóricos da Teoria da Compensação (VYGOTSKY, LURIA, 1996; VYGOTSKY, 1997) para estabelecer uma interlocução com um modelo cíclico de elaboração de material didático proposto por Leffa (2008). Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa-ação de base analítica qualitativa e com dados coletados e organizados em duas etapas: a) identificação sucessiva dos processos compensatórios dos sujeitos participantes do estudo; b) análise das técnicas e estratégias de elaboração e adaptação de material didático que insurgem como respostas às vias compensatórias identificas. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e observações de aulas e de oficinas de elaboração e adaptação de material didático. Os resultados mostram que a tensão entre a perspectiva educacional inclusiva que apresentamos e a questão do material didático problematizada ao longo do artigo pode ser abordada tomando como ponto de atrelamento as vias compensatórias dos alunos que, em sua pluralidade e dinâmica manifestas ao logo do ensino-aprendizagem, passam a ser o foco do processo pedagógico.Palavras-chave: inclusão educacional; material didático; deficiência visual.
IntroduçãoNos últimos anos, assistimos ao sensível avanço das políticas de inclusão educacional em âmbito nacional. De modo amplo, o ideário de base dessas políticas reflete o reconhecimento da urgente garantia de direitos daqueles que, por uma razão ou outra, se deparam com barreiras 2 de inserção no meio social. Contudo, apesar do sensível avanço, as dificuldades em dar forma a essas