A construção, em 1908, de um trecho da Estrada de Ferro Central do Brasil, na região norte de Minas Gerais, foi que determinou a ida de Carlos Chagas ao lugar onde iria fazer, pouco mais tarde, a grande descoberta que consagrou nosso país em todo o mundo científico. A malária estava causando diversas perdas e foi solicitada a ida, para o local, de um médico especialista em combate àquela doença. Oswaldo Cruz, então diretor do Instituto Manguinhos, designou Carlos Chagas, assistente dele, para ir ao local dirigir o combate à doença que estava impedindo a construção da estrada. Um engenheiro chamou atenção para o fato de que existia na região um inseto chamado "barbeiro" que talvez pudesse ser o causador de muitas moléstias. Contou também que o inseto vivia nas frestas das choupanas e que chupava sangue de gente e de animais. Chagas viu os "barbeiros", dissecou-os e encontrou "flagelados com caracteres de critídias", segundo suas palavras. Enviou alguns insetos para Oswaldo Cruz, que descobriu tripanossomas, até então desconhecidos no sangue periférico de macacos inoculados. Chagas foi informado a respeito e estudou o ciclo evolutivo deste parasita, denominando-o, em homenagem a Cruz, Trypanosoma cruzi. Em março de 1909, após analisar o sangue de uma criança enferma, Carlos Chagas descobriu os agentes causadores (protozoário, flagelado, tripanosoma) e transmissor ("barbeiro", inseto, hematófago) de uma nova doença, a doença de Chagas.
REVISTA BRASILEIRA DE HEMATOLOGIA E H E M O T E R A P I A