Psicologia e saúde: a terapia comunitária como instrumento de sensibilização para o trabalho com comunidades na formação do Psicólogo

Abstract

A participação do psicólogo na atenção primária implica uma preparação para esse campo de trabalho. A terapia comunitária vem de encontro a essa proposta oferecendo ao psicólogo um instrumento de trabalho de promoção e prevenção em saúde mental. Este trabalho corresponde ao relato de experiência da autora no curso de Psicologia, sendo que, na reformulação do currículo desse curso, foi possível incluir a terapia comunitária a partir do 2º semestre de 2005, com a finalidade de oferecer aos alunos(as) uma visão diferente em relação à promoção e à prevenção em saúde nas comunidades. Foi possível observar que os alunos(as) desenvolveram uma postura crítica em relação ao uso das técnicas e de sua contribuição para o desenvolvimento das comunidades, sensibilizaram-se com a sua dor e o seu sofrimento, ressignificando, assim, o próprio conceito de sofrimento. Do atendimento clínico/individual, avançaram na direção de um trabalho mais coletivo e comunitário.

Health Professionals Training: Strategies of Sensibility to Work with the Community

“…Nowadays, it is clear that students in the classroom have less involvement with the basic contents of the development, while the traditionally used methodologies prove to be increasingly less efficient. As a pro fessor of the health area, specifically instructing Psychology, Public Health, Health Education and Co mmunication in this area, this last two so called "service d isciplines" allow me to observe great resistance, lack of interest and motivation, on the part of students to contents related to the collective health, and it expanded to the Psychology course [1], as well. Working with Nutrit ion and Sports Science students, the strangeness was even more accentuated, besides being an underrated content by the specific development areas.…”

Sobre o processo e a organização do trabalho de psicólogos da atenção básica: entre o prazer e o sofrimento

“…Os problemas de relacionamento no trabalho foram uma das dificuldades mais apontadas pelas entrevistadas, corroborando vários estudos na literatura (ARAÚJO, 2008;ARCHANJO;SCHRAIBER, 2012;KIND, 2013;CELA;OLIVEIRA, 2015;CFP, 2010;DANELUCI, 2011;DIMENSTEIN, 1998;FERMINO et al, 2009;FUENTES-ROJAS, 2011;KLEIN, 2015;NUNES, 2009;OLIVEIRA et al, 2017;RONZANI, 2009; SOUZA; DELA COLETA, 2012), que também citam a existência de relações hierarquizadas, verticais e desarticuladas, permeadas pela falta de diálogo, integração e trabalho entre a equipe, e pela grande rotatividade dos profissionais da equipe e constantes mudanças de gestores; insatisfações e queixas ignoradas pelas chefias; muitas dificuldades decorrentes também das diretrizes políticas e da gerência administrativa dos gestores; tensões entre as equipes de saúde da família e do NASF; os problemas na articulação das equipes multiprofissionais e não integração dos saberes das diferentes disciplinas para a realização de um trabalho conjunto.…”

“…São elas: reconhecimento do território de abrangência; acolhimentos em saúde; atendimentos grupais com a população adscrita (grupos terapêuticos); atendimentos psicológicos individuais; atividade de apoio matricial, que se refere ao suporte técnico, assistencial e pedagógico à equipe de saúde acerca de questões de saúde mental, inclusive a assessoria na definição de planos terapêuticos; visitas domiciliares para avaliação e acompanhamento de usuários e famílias; desenvolvimento de atividades de cunho educativo, na perspectiva da promoção da saúde da população; articulação com outros dispositivos da rede disponíveis no municípiocomo CAPS, conselho tutelar, hospitais, escolaspor meio de encaminhamentos e discussões de casos; grupos interdisciplinares, como grupo hiperdia, desenvolvido para usuários com hipertensão e/ou diabetes e aberto a seus familiares; e até mesmo articulação com acadêmicos de psicologia que fazem estágio na ESF, entre outras ações.As pesquisas sobre as práticas profissionais de psicólogos na rede básica mencionam várias dificuldades enfrentadas por esse profissional no desempenho de seu trabalho, também em conformidade com o relatório do CFP. As mais comumente citadas referem-se a: elevado volume e pressão a reprodução do modelo clínico tradicional; falta de reconhecimento e de valorização do papel do psicólogo por parte dos outros profissionais da equipe; falta de reconhecimento e legitimação por parte do poder público sobre a importância do psicólogo na AB; inadequação do conteúdo curricular de psicologia à prática nos serviços públicos de saúde; falta de experiência durante a graduação (estágios) e anterior à entrada no serviço público; falta de investimento institucional no profissional como a oferta de cursos, capacitações(ARAÚJO, 2008;ARCHANJO;SCHRAIBER, 2012;CEZAR;RODRIGUES;ARPINI, 2015;DANELUCI, 2011;DIMENSTEIN, 1998;DUARTE; MORAES, 2016;FERMINO et al, 2009;FUENTES-ROJAS, 2011;NEPOMUCENO;BRANDÃO, 2011;NUNES, 2009; PAIVA; RONZANI, 2009; SOUZA; DELA COLETA, 2012).…”