RESUMOO estudo tem como objetivo discutir a inserção da família no cuidado em saúde mental em um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Essa questão emergiu de uma pesquisa ampla de avaliação de CAPSs na Região Sul do Brasil, denominada CAPSUL, e dos resultados oriundos da etapa qualitativa do estudo. Trata-se de pesquisa avaliativa (estudo de caso) realizada em um CAPS do município de Joinville, Estado de Santa Catarina, no período de julho a agosto de 2006, que se desenvolveu a partir da avaliação de quarta geração, que é construtivista, responsiva e de abordagem hermenêutico-dialética. Os instrumentos de coleta de dados foram entrevistas com equipe, usuários e familiares e observação de campo. A partir do agrupamento sistemático dos núcleos de significados chegou-se a dois eixos de discussão. No primeiro, A família enquanto unidade cuidadora, reunimos os posicionamentos assumidos por aqueles que acreditavam na família como dimensão do tratamento. No segundo -CAPS como dimensão de suporte à família -trabalhamos com os que discutiam o papel do serviço em prover suporte à família e integrá-la no projeto terapêutico.Palavras-chave: Família. Reabilitação. Serviços de saúde mental.
INTRODUÇÃODiscutir a evolução do cuidado psiquiátrico incita-nos a pensar nas diferentes estratégias de intervenção voltadas ao fenômeno da loucura no decorrer da história humana, porquanto a história da psiquiatria é também a história de suas atitudes em relação ao seu objeto, o doente, que, deslocado de seu contexto, deixou de ser considerado como ser singular, que possui laços afetivos, que vive em comunidade e deseja ser tratado com respeito, civilidade e cuidado.No modelo manicomial, de herança pineliana, testemunhou-se a ênfase na família como cúmplice resignada e grata pela internação do paciente. Da mesma forma, a família era entendida como um sistema doente, fragilizado, que não dava conta de prover ao reconhecimento social do doente mental. Foi a partir desse discurso peculiar de culpabilização e gratidão que o hospital psiquiátrico sobreviveu por séculos e reproduziu saberes e práticas de exclusão do contexto global do sujeito doente (1) . Podemos então entender que no interior do cuidado psiquiátrico a família era deslocada para fora do contexto do tratamento, tanto por suas próprias fragilidades em situar-se como copartícipe quanto por conta de uma medicina mental que fortalecia esse discurso culpabilizador e excludente.Nos últimos 20 anos têm surgido importantes modificações, tanto em conceitos quanto em papéis na área de psiquiatria e saúde mental,