O conceito de racismo institucional: aplicações no campo da saúde

Abstract

O artigo propõe-se a refletir sobre o conceito de racismo institucional, em relação a sua pertinência para pensar a realidade social brasileira, assim como ao seu vínculo com ações, demandas e disputas do movimento negro contemporâneo frente ao poder público. O racismo institucional atua de forma difusa no funcionamento cotidiano de instituições e organizações, provocando uma desigualdade na distribuição de serviços, benefícios e oportunidades aos diferentes segmentos da população do ponto de vista racial. Aponta-se que, para sua desconstrução, é preciso a implementação de políticas públicas que provoquem um processo de desrracialização, assim como gerar reflexões acadêmicas de como operam esses mecanismos. Na área da saúde, eles podem ser analisados como dispositivos de biopoder, na medida em que gerenciam a vida da população sob um olhar racial. Demanda-se a necessidade de realização de pesquisas qualitativas de abordagem etnográfica que reflitam sobre como operam esses dispositivos no cotidiano das instituições.

A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal e ao parto no Brasil

“…Health studies point to the influence of race/color on the access to and the use of services 7,8,9,10 . Consequently, the government implemented initiatives to address this inequality, including the Program for Confronting Institutional Racism, launched in 2005 11,12 .…”

Volatilidade classificatória e a (in)consistência da desigualdade racial

“…For example, racial variations in time and space are subject to specific institutional influences that operate to some extent regardless of individual preferences. Institutional influence is manifested diffusely through the consolidation of power structures that reproduce and leave legacies of superiority of one race over the other, thus contributing to racial reclassification of those discriminated against or who lack preferential access to the benefits generated by the state and organizations 17,18 . Interaction between the interviewee and interviewer, permeated by their respective attributes, is also part of the contextual dimension.…”

As lógicas da exclusão urbana no contexto português : uma perspectiva Sul-Norte

“…Descrevendo a figura do "senhor -cidadão", Chaui salienta a alma da sociedade brasileira : "conserva a cidadania como um privilégio de classe, tornando-a numa concessão regulada pela elite, com o poder de retirá-la quando quisesse (como na ditadura)" (Chaui, 1986 : 53). Como sublinha Lopez (2012), quando tratamos dos conceitos de igualdade, equidade e cidadania na sociedade brasileira não podemos prescindir da perspectiva racial. No Brasil a academia lidou com a problemática racial através da construção de uma identidade nacional privilegiando os conceitos de mestiçagem e democracia racial, que constituiriam historicamente a singularidade do Brasil, contrastando com os exemplos de segregação racial dos Estados Unidos ou da África do Sul (Lopez, 2012).…”

“…Como sublinha Lopez (2012), quando tratamos dos conceitos de igualdade, equidade e cidadania na sociedade brasileira não podemos prescindir da perspectiva racial. No Brasil a academia lidou com a problemática racial através da construção de uma identidade nacional privilegiando os conceitos de mestiçagem e democracia racial, que constituiriam historicamente a singularidade do Brasil, contrastando com os exemplos de segregação racial dos Estados Unidos ou da África do Sul (Lopez, 2012). O processo de construção ideológica do Brasil como uma nação mestiça, a partir do século XIX, baseou-se em tomar como dado adquirido a fusão harmoniosa das raças e das culturas, chamada a posteriori "democracia racial".…”