2010
DOI: 10.1590/s1414-32832010005000027
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Classificações interativas: o caso do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade infantil

Abstract: O filósofo da ciência Ian Hacking diz que nosso mundo é um mundo de classificações e que essas classificações têm efeitos particulares quando se referem a comportamentos de pessoas. Neste trabalho, pretende-se discutir como o diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) infantil pode funcionar como uma classificação e, assim, afetar o comportamento das crianças diagnosticadas. Inicialmente, é realizada uma discussão sobre a função das classificações na ciência. A partir dessas cons… Show more

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“…Mais do que isso, estar consciente desse exercício de classificação tende a propiciar modificações comportamentais. Ou seja, "a partir de um diagnósti-co bem estabelecido, qualquer comportamento inesperado da criança passa a ser justificado pela doença que ela apresenta" ou pelo rótulo que lhe é nomeado 26 (p. 901). Essa atitude de localizar o problema na criança leva, por conseguinte, à estigmatização da própria criança, até então considerada sadia, pela incorporação desse rótulo 27 .…”
Section: Discussionunclassified
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“…Mais do que isso, estar consciente desse exercício de classificação tende a propiciar modificações comportamentais. Ou seja, "a partir de um diagnósti-co bem estabelecido, qualquer comportamento inesperado da criança passa a ser justificado pela doença que ela apresenta" ou pelo rótulo que lhe é nomeado 26 (p. 901). Essa atitude de localizar o problema na criança leva, por conseguinte, à estigmatização da própria criança, até então considerada sadia, pela incorporação desse rótulo 27 .…”
Section: Discussionunclassified
“…Mais, reconhecendo que "aparatos técnicos de diagnóstico, como o microscópio, aparelhos de raio X, fárma-cos, de um modo geral, desempenham um papel fundamental na definição daquilo que é normal ou patológico" 30 (p. 138), que espaço sobra à escola para questionar também ela as suas tecnologias educativas, relacionais e comunicacionais perante a emergência apressada desses rótulos que tendem a surgir? Do mesmo modo, este estudo sugere que, em diversas situações, os profissionais de educação estão convictos de que o uso do medicamento é responsável pela variação dos comportamentos da criança, excluindo outras variáveis, como as experiências no interior da sala de aula, designadamente no nível das práticas docentes e do ambiente na escola 26,30 . Indubitavelmente, a valorização profissional em termos de remuneração, as condições de trabalho, o projeto pedagógico de cada escola, a autonomia administrativa das escolas, o tempo de permanência das crianças e dos jovens em aula, o número de alunos em sala 9 , entre tantas outros, são aspectos fundamentais que devem ser levados em conta a esse respeito.…”
Section: Discussionunclassified
“…Durante o século XX, problemas indicativos de desvios da infância já eram descritos com diversos nomes, a saber: "encefalite letárgica", "dano cerebral mínimo", "doença do déficit de atenção". Nos anos de 1980, com a publicação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III), nomeia-se TDAH o problema que poderia ser diagnosticado a partir de três listas de sintomas, quais sejam: (i) déficit de atenção, (ii) impulsividade e (iii) hiperatividade (BRZOZOWSKI et al, 2010).…”
Section: Introductionunclassified
“…Nessa perspectiva, discursos e intervenções da medicina psiquiátrica também atingem a infância, submetida de modo progressivo, especialmente no âmbito educacional, a criação de novas psicopatologias que justificam dificuldades de aprendizagem e comportamentos considerados inadequados (Boarini & Borges, 1998;Collares & Moysés, 2014). Dentre as psicopatologias da infância, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) pode ser considerado como um dos diagnósticos mais determinados às crianças e adolescentes na contemporaneidade (Bianchi & Farone, 2015;Brzozowski, Brzozowski, & Caponi, 2010; A. M. Rocha & Cavalcanti, 2014). A psiquiatria contemporânea, ainda que tenha dificuldades de comprovar cientificamente as bases biológicas e cerebrais do diagnóstico de TDAH (Viégas & Oliveira 2014), perscruta minuciosamente gestos, atitudes e comportamentos da infância que escapem dos padrões estabelecidos por instituições disciplinares e normativas.…”
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