A criança abrigada: considerações acerca do sentido da filiação

Abstract

RESUMO. O presente artigo discute os sentidos da filiação para crianças abrigadas, vítimas de violência doméstica. O desejo dessas crianças de recuperar a filiação familiar é analisado como busca de um lugar psicossocial. As crianças abrigadas, que sofreram uma ruptura na filiação primeva e história de vida, flutuam entre vinculações efêmeras, sem referências de seu passado e sem pontos fixos e sólidos para seu assentamento no presente que lhes possam servir de guia ou de novas filiações. Tal condição de desfiliação é focalizada como tendência da sociedade contemporânea em afrouxar vinculações, movimentar os ancoradouros psicossociais e produzir desterritorializações, favorecendo uma subjetividade móvel, não identitária, desenlaçada de encaixes e conexões duradouros. Como conclusão, é apontada a continuidade histórica da vitimização da infância realizada pela condição de trânsito e passagem na qual vive, impeditiva de constituições de vínculos duradouros e sólidos que permitam uma suficiente estabilidade e segurança para a prospecção do mundo.

Um estudo sobre o acolhimento precoce inspirado no método Bick

“…Esse dado vai ao encontro dos achados de estudos clássicos e contemporâneos acerca do acolhimento precoce (Bowlby, 1976(Bowlby, /2006David & Appell, 1964;Nogueira & Costa, 2005;Parreira & Justo, 2005;Rygaard, 2008;Siqueira & Andriatte, 2001;Smyke, Dumitrescu & Zeanah, 2002;Vectore & Carvalho, 2008;Winnicott, 1984Winnicott, /2002, que enfatizam, na situação de ruptura com a família biológica, a necessidade de um contato receptivo e estável dessas crianças com um cuidador substituto, que possibilite o desenvolvimento do apego discriminado (Gauthier, Fortin & Jéliu, 2004;Rygaard, 2008;Wendland & Gaugue-Finot, 2008), de forma a amenizar os prejuízos causados pela privação materna e os traumas dela decorrentes (Rygaard, 2008;Smyke et al, 2002).…”

Desfecho dos casos de violência contra crianças e adolescentes no poder judiciário

“…In the point of view of researchers in this field, such a measure sets the child or adolescent in a passageway, where bonds are temporary and relationships unstable, which means the victim has to deal with abandonment and a lack of references (45) . It is also highlighted that the child may consider the withdrawal from his or her family a punishment for his or her reactions towards the situation of maltreatment.…”

“…The authors consider the consequences of shelter care substantial, for the child looses its former parentage and does not receive a substitute that can serve as an anchor for its growth and development, condition classified as psychosocial "unfiliation" (45) . For various authors, remove a child or adolescent from an environment where his or her rights are not respected and where physical and/or psychic integrity is threatened is a legal interdiction according to child and adolescent protection laws.…”

Acolhimento precoce e o vínculo na institucionalização

“…Esse dado converge com os encontrados em estudos clássicos e contemporâneos acerca do acolhimento precoce (Bowlby, 1976(Bowlby, /2006Burlingham & Freud, 1954/1960David & Appell, 1964;Nogueira & Costa, 2005;Parreira & Justo, 2005;Robertson, 1953;Rygaard, 2008;Siqueira & Andriatte, 2001;Smyke et al, 2002;Vectore & Carvalho, 2008;Winnicott, 1984Winnicott, /2002, que enfatizam, na situação de ruptura com a família biológica, a necessidade de um contato receptivo e estável dessas crianças com um cuidador substituto, que possibilite o desenvolvimento do apego discriminado (Gauthier et al, 2004;Rygaard, 2008;Wendland & Gaugue-Finot, 2008), de forma a amenizar os prejuízos causados pela privação materna e os traumas dela decorrentes (Rygaard, 2008;Smyke et al, 2002).…”