O ficar é um relacionamento afetivo bastante popular entre os adolescentes e caracteriza-se por ser breve, passageiro, imediatista, volátil e descompromissado. Análises comparativas demonstram que o ficar obedece à mesma lógica que rege outros relacionamentos. Seu caráter provisório e efêmero está presente, por exemplo, na abreviação dos vínculos empregatícios e na rarefação de relacionamentos outrora sólidos e duradouros tais como os de vizinhança e familiais. Vive-se hoje uma condição de aceleração do tempo, alargamento de espaço e movimentação humana sem precedente, impeditiva de vinculações psicossociais estáveis e prolongadas em todos os planos da vida: do amor ao trabalho.
RESUMO. O presente artigo discute os sentidos da filiação para crianças abrigadas, vítimas de violência doméstica. O desejo dessas crianças de recuperar a filiação familiar é analisado como busca de um lugar psicossocial. As crianças abrigadas, que sofreram uma ruptura na filiação primeva e história de vida, flutuam entre vinculações efêmeras, sem referências de seu passado e sem pontos fixos e sólidos para seu assentamento no presente que lhes possam servir de guia ou de novas filiações. Tal condição de desfiliação é focalizada como tendência da sociedade contemporânea em afrouxar vinculações, movimentar os ancoradouros psicossociais e produzir desterritorializações, favorecendo uma subjetividade móvel, não identitária, desenlaçada de encaixes e conexões duradouros. Como conclusão, é apontada a continuidade histórica da vitimização da infância realizada pela condição de trânsito e passagem na qual vive, impeditiva de constituições de vínculos duradouros e sólidos que permitam uma suficiente estabilidade e segurança para a prospecção do mundo.
O alcoolismo tem sido uma das maiores preocupações da saúde pública no mundo, estando associado a diversos outros problemas como: mortes no trânsito, desentendimentos familiares e afetivos, separação de casais, sendo, também, companheiro inseparável de homicídios, espancamentos de crianças e mulheres, deserção do trabalho, da escola, etc. São numerosas as tentativas para se compreender o alcoolismo. Alguns autores acreditam que suas causas estão associadas a um complexo conjunto de fatores biopsiocossociais (Bertolote, 1997; Vaillant, 1995/1999). Na esfera biológica, fatores hereditários e predisposição ambiental são freqüentemente mencionados como uma das possíveis explicações para o consumo e dependência do álcool. Cloninger (1987) em seu trabalho com gêmeos, utilizando o método dos filhos adotivos, concluiu que o alcoolismo, em alguns casos, se deve à herdabilidade gênica e, em outros, à predisposição ambiental. Desta forma, dependendo do Alcoolismo
Resumo Os andarilhos freqüentemente caminham pelas estradas sem destino como nômades que renunciam a fixações geográficas, psicológicas e sociais. Não é raro encontrar andarilhos de estrada com manifestações de visões e pensamentos delirantes. O objetivo dessa pesquisa foi investigar possíveis conexões entre a movimentação constante dos andarilhos e a eclosão de delírios. Coletamos e analisamos narrativas de andarilhos, explorando especificamente os conteúdos alusivos à representação de si, de seu mundo e de sua caminhada pelas estradas. Idéias persecutórias, megalomaníacas e depressivas, superinvestidas afetivamente, aparecem com freqüencia nos pensamentos sobre o presente, o passado e nas reflexões sobre os motivos do deslocamento constante. Os resultados sugerem que há uma forte relação entre a movimentação constante e sem destino e as idéias e visões delirantes que os acometem. Palavra chave: Movimento constante; andarilhos de estrada; pensamento delirante.
RESUMO Neste artigo, derivado de uma pesquisa de campo, procuramos traçar o perfil do cuidador informal de idosos da cidade de Assis, analisando as relações entre a qualidade de vida (QV) e índices de sobrecarga (IS) decorrente dos afazeres de cuidado. Por inquérito amostral domiciliar, realizamos um estudo transversal, no qual foram entrevistadas, por meio de questionário estruturado e escalas padronizadas, 165 cuidadoras informais de idosos, maiores de 18 anos, residentes na zona urbana. De um modo geral, elas não se sentem muito sobrecarregadas com a tarefa de cuidar de um idoso, no espaço doméstico e, ainda, apresentam índices razoáveis de QV, auferidos pelos instrumentos utilizados. Houve variações nos IS e QV, em relação aos marcadores sociais de diferença (classe social, nível educacional, geracional, grau de parentesco) e morar ou não junto com o ente cuidado. Além disso, constatamos uma correlação negativa bastante significativa entre IS e QV, isto é, quanto maior a percepção de sobrecarga, menor é a avaliação da QV. É necessário um investimento em políticas públicas de saúde que atuem diretamente na minimização das desigualdades encontradas nas relações entre esses marcadores, otimização da rede de cuidados e serviços de saúde.
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