A emergência da politização da intimidade na experiência de mulheres usuárias de drogas

Abstract

Tendo como referencial teórico o campo intelectual feminista, este artigo discute a fundamentação moral e sexista do modelo de tratamento proposto pelo serviço de atenção a usuários de álcool e outras drogas conhecido como comunidade terapêutica. A partir do acompanhamento da experiência de um grupo de mulheres em tratamento em serviço aberto (CAPS-AD), apresenta-se a possibilidade de constituição de um espaço de politização da intimidade de mulheres usuárias de drogas. Ao final, discute-se que, para além do tratamento do uso abusivo de drogas, o trabalho no grupo de mulheres potencializou o questionamento da sua condição de gênero, por meio da interpelação coletiva sobre as relações de subordinação e opressão às quais estão submetidas e do reconhecimento dos lugares de fragilidade e insuficiência historicamente a elas atribuídos.

Analysis of the functioning of a therapeutic comunity for drug users

“…Mary Jane Spink (2010) discorre sobre os discursos da vida saudável e da vida de risco e, segundo a autora, há um imperativo moral sobre práticas saudáveis, na qual há um excesso de moralização, potencialmente associados à abordagem da promoção da saúde, não havendo espaço para políticas de Redução de Danos. O modelo de Redução de Danos foca na reabilitação paulatina e possível, propondo uma construção conjunta com os pacientes de estratégias de enfrentamento (Prado & Queiroz, 2012). Na CT, além do Grupo de Sentimentos, todos participavam de um grupo semanal conduzido pelo psicólogo contratado e também de outro grupo com a psicóloga voluntária.…”

Meanings about mothering by women in treatment for drug use

“…The work of the health network encounters, according to Prado and Queiroz (2012), challenges within the field of drug consumption. This is because drug use is also inserted into discourses of illegality and therefore makes explicit a social group characterized as incapable and marginalized.…”

“…According to Prado and Queiroz (2012), these descriptions justify practices of control over women, still grounded in the care to women as reproducers. In this study, mothering is comprehended as the action of women in caring and educating their children up to adulthood (Carneiro & Viana, 2008).…”

“…This becomes a complicating factor for the identification and approach of female drug users because they tend to hide their consumption for fear of the judgment of health professionals (Yamaguchi, Cardoso, Tores, & Andrade, 2008). Prado and Queiroz (2012) pointed out that the challenge of working within the substance abuse field is due to being inserted in a space of illegality and making explicit a social group characterized as incapable.…”

Use of psychoactive substances in women in outpatient treatment

“…Recent studies point to the existence of socioeconomic, geographical, organizational and cultural barriers that expose the weaknesses in women's access to treatment services, which often tends to underestimate the reality of this problem in this group (5)(6) .…”