Este artigo é resultado de um trabalho etnográfico que analisa a construção de um mercado de excelência para os queijos artesanais fabricados em Minas Gerais. Seu objetivo é demonstrar como essa construção, que tem sido chamada de “Revolução Franco-Brasileira” ou “Inconfidência Queijeira”, não é apenas o efeito de iniciativas individuais ou discursos inventivos sobre a imagem do alimento, mas primordialmente uma consequência de evoluções estruturais e institucionais. Com demostrou o trabalho de campo, que acompanhou a trajetória do queijo minas artesanal, desde a fabricação e o consumo ligado a famílias situadas em regiões produtoras de Minas Gerais até o seu trânsito em mercados de excelência, nessas evoluções estão envolvidos atores de mundos sociotécnicos distintos (sanitários, gastronômicos, comerciais etc.), além de atores não humanos (bactérias, fungos e ácaros, entre outros). O elemento essencial na institucionalização desse mercado é a maturação dos queijos, uma prática multiespécie que tem produzido um poder político eficaz ao transformar um alimento popular, envolto em controvérsias sanitárias, num objeto moral consumido por elites. Trata-se de um meio de construção de distinções que vem redesenhando a cartografia de produção, a comercialização e o consumo de uma parcela do alimento fabricado no estado.