Apresentaremos aqui uma proposta geral de pesquisa, retomada em numerosos trabalhos contemporâneos que tratam da questão hoje rotineira da "construção das identidades", por intermédio do estudo da reviravolta do mercado de vinhos da Borgonha, na França, no período do entre guerrasem proveito dos proprietários e em detrimento dos comerciantes -fato que conduziu à redefinição da imagem da região.1 Com efeito, se desde os anos 1980, a "construção de identidades" tem permitido desnaturalizar a rígida noção de identidade e retomar a análise dos fenômenos culturais em termos de uma dinâmica social preocupada com as posições sociais e as correlações de força, devemos constatar, no entanto, o atual enfraquecimento das capacidades heurísticas desta fórmula que, do nosso ponto de vista, comporta mais inconvenientes do que vantagens.Assim sendo, em um primeiro momento, nos propomos a retomar mais detidamente a literatura que trata da noção de identidade nas ciências sociais francesas para melhor compreendermos, por um lado, os avanços por ela permitidos e, por outro, seu desgaste diante da multiplicidade de processos sociais que recobre. A fórmula da construção das identidades passa a funcionar, a partir de então, como um obstáculo epistemológico que privilegia um construtivismo discursivo, conferindo uma visão excessivamente plástica às evoluções sociais.Ao adotar um vocabulário alternativo para analisar não mais a identidade, mas a imagem social da Borgonha e dos vinhos da região, atentando para não confundir a produção de um discurso sobre os grupos e os territórios -feita pelas elites sociais -com as socializações ou a apropriação destes mesmos discursos pelas categorias populares, privilegiamos o que poderíamos denominar, portanto, de um construtivismo institucional e estrutural. Trata-se aqui de mostrar a riqueza do conjunto de redes sociais e de evoluções institucionais indispensáveis num momento anterior que ao