*Esta pesquisa foi parcialmente realizada durante minha participação, entre setembro e dezembro de 2012, como investigadora visitante no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, sob a supervisão do doutor José Manuel Sobral, a quem agradeço pelas valiosas contribuições.
CONFLITOS À MESA Vegetarianos, consumo e identidade *
Juliana Abonizio
Hors d'ouvresSou vegetariana desde 1999. Em 2010, durante meu estágio pós-doutoral realizado em Portugal, além das mudanças na dieta próprias da situação de estrangeira, passei a observar que, em diversas situações, eu era confrontada por meus comensais acerca da minha opção. Ao declarar-me vegetariana -termo que, posteriormente, notei estar longe de uma definição consensual -, frequentemente tinha de explicar as razões da minha opção dietética. Diante das solicitações dos porquês de eu consumir produtos vegetarianos e principalmente os porquês da minha recusa em consumir alimentos cárneos, percebi que meus interlocutores não consideravam (e ainda não consideram) minha opção algo corriqueiro ou mesmo natural, antes pensavam tratar-se de algo que foi causado, provocado por algum elemento interno ou externo e assim buscavam justificativas e razões para meu comportamento não imediatamente compreendido.Desse modo, os meus desentendimentos sociais passaram a ser questionados como problemas sociológicos: por que o fato de eu adotar determinada dieta incomoda outras pessoas a ponto de ser preciso explicar minha opção? O que significa questionar opções individuais (como a minha dieta) se boa parte da literatura geral preconiza o individualismo e autonomia como marcas culturais da contemporaneidade? O que a pluralidade de dietas contemporâneas e os conflitos que geram no hábito cotidiano de comensalidade podem dizer sobre a sociedade que os cria e possibilita?