A instituição psiquiátrica moderna sob a perspectiva organizacional

Abstract

Este ensaio analisa o desenvolvimento da instituição psiquiátrica moderna, representado de maneira mais significativa pelo surgimento da organização manicomial tradicional. Nesse tipo de instituição, o processo de controle comportamental opera nas mesmas bases epistemológicas que deram ensejo ao modelo burocrático de dominação, ou seja, de acordo com a orientação racional instrumental que legitima a previsibilidade e a eficiência como princípios centrais. Em contrapartida, observa-se recentemente uma ruptura com tal tipo organizacional, expressa pelos movimentos antimanicomial e da antipsiquiatria, que se deram, primeiro, sob a forma de denúncia e crítica ao telos contraditório patente no instituto manicomial, e depois a partir de propostas reformistas. Em último plano, tal mudança de paradigma ocorre no sentido de uma humanização da interação entre os diferentes atores do modelo manicomial.

O cuidado oferecido a pessoas que vivenciaram a experiência da desinstitucionalização

“…Quando questionamos os sujeitos do estudo sobre o preparo (durante a internação) para sair do hospital, a contribuição dos profissionais de saúde para a alta, as dificuldades encontradas no processo de alta e, depois, na construção da vida fora da internação, obtivemos respostas diversas, vagas, inconclusivas e complexas. O próximo passo seria compreendê-las a partir do método de Análise de Conteúdo (11) . Inicialmente agrupamos as ideias em unidades de significação; posteriormente analisamos estas unidades a fim de compreender os dados.…”

“…Diferençar ou diferenciar significa diversificar, distinguir, estabelecer diferença entre o eu (pessoa) e a instituição (reproduzida pela interna). Assim, diferenciação significa passar do homogêneo da instituição psiquiátrica fechada para o heterogêneo do social (11) . O diferençar-se das ex-internas refere-se à distinção entre a pessoa e a instituição no momento em que se estabelecem novos significados ou se reconstroem os antigos; ou ainda se identifica com pessoas da família, com a sociedade, ou multiplica as suas identidades, como na fala:…”

A positividade da emoção na prática da pesquisa social em organizações

“…A pesquisa no hospital psiquiátrico em questão correspondeu a uma investigação sobre as dimensões dos processos de reestruturação organizacional provocados pelo movimento de reforma psiquiátrica pelo qual vêm passando as organizações manicomiais nos últimos anos (VIZEU, 2005). A intenção foi verificar se hospitais que haviam declarado ter aderido ao modelo de reforma psiquiátrica adotavam novas formas de gestão, bem como critérios não burocráticos para mediar as relações entre os membros da organização, sejam eles funcionários, voluntários ou mesmo pacientes e familiares destes.…”

Sofrimento mental e os desafios do direito à saúde

“…Busca-se o desenvolvimento de novas práticas de atenção à saú-de mental, que se propõem a efetivar a desinstitucionalização, promovendo o fortalecimento de serviços alternativos inseridos no contexto descentralizado do Sistema Único de Saúde. Vizeu aponta que na reforma psiquiátrica também se preconiza a inserção da pessoa em sofrimento mental nos espaços sociais dos quais antes ela era privada 58 . Segundo este autor, "tal fato indica existir um reconhecimento desse ator como sujeito ativo e competente, ao contrário do que ocorre na lógica burocrática, em que o paciente é tido como um objeto a ser manipulado pelos especialistas".…”