Aids e a Aids das ciências

Abstract

Este trabalho visa apresentar parte dos desenvolvimentos de uma pesquisa sobre a construção das doenças no discurso biomédico, partindo de uma abordagem ligada à sociologia do conhecimento, aqui definida como antiessencialista. Com o intuito de demonstrar algumas das questões teórico-metodológicas apontadas, os dados da pesquisa referentes ao estabelecimento do HIV como agente etiológico da Aids, obtidos a partir da revisão de textos médicos, são analisados através do recurso a categorias de análise propostas originalmente por Foucault (formação discursiva), Latour (caixa-preta) e Kuhn (paradigma). Este estudo pretende apontar como as construções teóricas passam a ser percebidas pelos médicos como objetos naturais; como conseqüência, perde-se de vista todo o seu processo de elaboração, o que dificulta acentuadamente o exercício da crítica dos médicos sobre seu próprio saber.

O dispositivo crônico da aids e os discursos da soropositividade

“…Inicialmente, cabe lembrar que foi Perlonguer (1987) quem, no Brasil, primeiro utilizou o conceito de dispositivo para pensar a epidemia da aids, trazendo à tona a produção da exceção e da racialização indireta relacionada aos homossexuais e, de modo mais geral, aos chamados "grupos de risco" -à época, subsumidos na expressão 5H: hemofílicos, homossexuais, haitianos, heroinômanos e hookers (CAMARGO JR., 1994). O trabalho de Perlonguer foi retomado por Pelúcio e Miskolci ( 2009), novamente relacionado à biopolítica e operando conforme a sidadanização: uma modalidade de governo da vida soropositiva que exige e individualidade, a racionalidade e a responsabilização do sujeito por sua saúde e pela prevenção, num processo de produção de subjetividades vigilantes e controladas (na adesão ao uso dos fármacos e na submissão ao discurso biomédico ascético), por um lado, e de manutenção de formas de vida abjetas, que de várias formas rompem com as práticas e discursos do "bom paciente".…”

Una mirada de y desde la antropología:

“…El aparentemente lógico razonamiento científico, entonces, se vuelve parte de lo que Augé (1996) llama "prácticas de interpretación" y comprende negociaciones tácitas, locales, evaluaciones en constante cambio y gestos institucionalizados o inconscientes 9 . Tal como expresa Camargo (1994), el proceso de producción de conocimiento puede ser asimilado a cualquier otro ciclo productivo: hay productores, consumidores, canales de difusión o publicidad, canales de distribución, un mercado, etc. Los textos científicos materializan ciertos pactos de legitimación que permiten seguir sosteniendo una disociación entre los modos de conocer y las formas de intervenir.…”

Uma análise de conteúdo de crenças relacionadas com a AIDS entre participantes em O.N.G.s.

“…Ao nível do atendimento técnico, apesar dos avanços, o suporte ao paciente HIV continua insuficiente quanto ao trato psicossocial do sujeito (Figueiredo & Souza, 1993), tendo como característica a compartimentalização do fenôme-no, com divisão de responsabilidades reduzidas a um campo específico de ação, implicando na perda da compreensão global dos problemas decorrentes da AIDS. Formados dentro de uma perspectiva técnica que desvitaliza a relação terapêutica, os profissionais de saúde transformam o paciente num quadro clínico a ser resolvido (Camargo, 1994).…”