Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações" (Constituição da República Federativa do Brasil; Artigo 225º). "As noções de importância, de necessidade, de interesse são mil v ezes mais determinantes que a noção de verdade. Não, de forma alguma, porque elas a substituam, mas porque medem a verdade do que digo" (Deleuze). I. INTRODUÇÃO Este trabalho busca refletir sobre a complexidade do termo cidadania, que pode assumir múltiplos sentidos e ser utilizado em diversos contextos: como conceito teórico das Ciências Sociais, como categoria orientadora do discurso jurídico-administrativo ou enunciada pelos atores sociais no decorrer das lutas políticas em defesa de seus interesses e necessidades. Insere-se na pesquisa desenvolvida no Doutorado em Meio Ambiente (PPGMA) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ii sobre os processos participativos na gestão de duas áreas de proteção ambiental (APA), Unidades de Conservação da Natureza de uso sustentável, situadas na Bacia Hidrográfica do Rio Macaé (RJ), que podem ser reconhecidas por apresentarem certa identidade geográfica, histórica e cultural: APA Estadual de Macaé de Cima iii e APA Municipal do Sana iv . Procurando identificar as múltiplas forças que influem no processo de construção social do ambiente, nossa principal questão é: como certas coletividades vêm conseguindo construir instrumentos para efetivar sua cidadania, diante das forças ligadas ao Estado ou ao mercado? A pesquisa pretende identificar o diálogo específico travado pelas populações locais, entre os seus próprios segmentos e com outros atores sociais, no contexto dos processos relativos às transformações que os espaços denominados rurais v vêm sofrendo na sociedade contemporânea globalizada. Busca compreender a percepção dessas populações, quanto ao que consideram ser "direito", "participação" e "cidadania", considerando suas práticas participativas na gestão dasAPAs em estudo, sobretudo nos seus Conselhos. Almeja, assim, contribuir para a reflexão sobre os processos envolvidos na instituição coletiva de um projeto de gestão democrática, em que os "cidadãos autônomos" sejam capazes de deliberar sobre seu destino comum e reorientar os rumos