IntroduçãoOs recentes debates sobre a qualidade da democracia no Brasil têm sido centrados em aspectos institucionais, particularmente processos eleitorais e necessidade de reformas no financiamento de campanhas. Alguma atenção foi dada para a existência de uma cultura política ambivalente em relação à democracia e à falta de confiança nas instituições representativas. Porém, a relação entre esses dois fatores e a economia tem sido pouco aprofundada. O objetivo deste artigo é o de propor outra perspectiva de análise da influência de fatores econômicos no desenvolvimento democrático.Argumentamos que a bibliografia a respeito da relação entre economia e política apresenta perspectivas radicalmente diferentes, dando ênfase ora à economia, ora à política como variável independente. O que tentamos demonstrar, nesse caso, é que essas duas dimensões, em países como o Brasil, não podem ser vistas como mutuamente excludentes e precisam ser avaliadas compreensivamente para explicar a evolução do regime político.Por exemplo, considerando os fatores econômicos das últimas duas décadas, que promoveram avanços sociais importantes no Brasil, esperar-se-ia que o fomento do crescimento econômico e a melhoria da renda de sua população se traduzissem em uma democracia estável que contasse com amplo apoio dos cidadãos e com graus altos de satisfação com o funcionamento das instituições. Igualmente, na eventualidade de o governo precisar tomar medidas consideradas impopulares, os cidadãos mostrariam paciência e dariam um voto de confiança ao governo incumbente. No entanto, esse não parece ser o caso do Brasil.Tendo o Brasil institucionalizado uma democracia procedimental há mais de 25 anos, não é tão simples explicar os baixos níveis de apoio às instituições exemplificados pelo fato de que, em menos de um ano após a eleição de uma presidente que conquistou a maioria absoluta dos votos, tenham se iniciado movimentos pelo seu afastamento. Com base nessas observações, questionamos sobre o grau de influência da economia na deterioração das bases normativas e do apoio à democracia, levando ao que denominamos de democracia inercial.